Jussara Galli Krassuski, 43 anos, tinha 18 quando se casou. Fez apenas uma exigência ao marido: avisou que um dia iria abrir um orfanato. E que ele não a impedisse. Até hoje não sabe se o companheiro concordou mesmo ou se achou que era uma loucura de juventude. A verdade é que há pouco mais de oito anos o casal é parceiro no projeto Lar Dona Vera, que abriga 22 crianças em duas casas – uma em Santa Felicidade e outra no São Brás.

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Não deixa de ser uma loucura. Além dos R$ 14 mil mensais necessários ao funcionamento do Dona Vera, administração de oito funcionários e histórias de causar tremores de terra chegando ao portão, todos os dias, Jussara é do tipo inconformada. Logo, não tem um dia igual ao outro. O pessoal da Vara da Infância e Juventude já sabe: ela é capaz de botar banca, subir nas tamancas e se debulhar em lágrimas – ali mesmo, no piso da repatição, quando não consegue fazer andar o processo de algum de seus pequenos. "Casa de passagem é para ser provisória. Eles não podem ficar esperando. Os abrigos têm de informar o poder público, caso contrário eles não têm como apressar a papelada."

Informar, no vocabulário de Jussara, não tem um sentido convencional. Mulher altiva e falante, vai aonde a família da criançada está, o que já lhe garantiu conhecer uma Curitiba e região metropolitana que não estão, digamos, no mapa. O trânsito pelas zonas perigosas têm um efeito prático – romper o silêncio dos pais, que ficam mais de um ano sem dar as caras, empacando a papelada, uma lerdeza que a deixa, digamos – nos nervos. "Poucos pais vêm visitar os filhos. Muitos faltam nas audiências, mas depois recorrem", descreve.

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Desde a inauguração do Dona Vera, estima ter abrigado mais de 90 crianças. Poucas ficaram mais de três anos, o que a aproxima, ainda este ano, do recorde de cem encaminhamentos, para as famílias biológicas ou para a adoção. Exceção, apenas a menina de 9 anos, que sofre de síndrome fetal alcoólica e não encontra arrego nem entre os estrangeiros. Conhecidos por aceitarem grupos de irmãos e não discriminar necessidades especiais em geral, a adoção internacional vascila quando a criança vai depender dos outros a vida inteira. É um problema que o país tem de resolver – e não há problema do país que não bata na porta de lares como o Dona Vera.

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