Ponta Grossa Mais uma pessoa morreu enquanto aguardava por uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Paraná. Maria Dolores Bueno, de 62 anos, não suportou a espera de 24 horas e faleceu, no fim da tarde de ontem, no Hospital Ana Fiorino Menarim, em Castro, na região dos Campos Gerais. A aposentada deu entrada no pronto-socorro do hospital na segunda-feira, às 17 horas, com um quadro clínico de derrame cerebral. Neste ano, somente em Ponta Grossa, 22 pessoas faleceram antes que pudessem ter o atendimento em UTIs. Em todo o estado, ontem, outras 21 pessoas aguardavam por vagas em UTIs, sendo que sete delas estão na fila desde segunda-feira, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
Entre os pacientes que aguardam serem chamados está Onofre da Cunha Fontura, de 20 anos, internado no mesmo hospital em que Maria Dolores morreu. Ele levou um tiro na semana passada e passou por três cirurgias que tentaram controlar a infecção causada pelo rompimento do intestino. Desde sexta-feira, o rapaz aguarda por uma vaga em UTI, em qualquer cidade do estado. De acordo com os prognósticos médicos, a cada dia de espera seu estado se agrava. "É provável que ele não suporte mais esperar nem até amanhã", disse a assistente social do hospital, Damisa Martins Gomes.
Uma semana antes de Onofre dar entrada no hospital e necessitar com urgência da vaga, o governador Roberto Requião havia anunciado, durante a Agroleite (exposição agropecuária), em Castro, a abertura de dez leitos de UTI na cidade. Já a morte da aposentada ocorreu antes mesmo que o juiz da 3.ª Vara de Justiça de Ponta Grossa, Francisco Carlos Jorge, pudesse analisar a ação impetrada na segunda-feira pelo promotor Fuad Faraj, que cobra o imediato atendimento das pessoas que aguardam por um leito. "Eu não recebi essa ação ainda. É provável que amanhã (hoje) eu receba e analise", disse Jorge. O promotor lamentou a morte de Maria Dolores. "Mais que a violação da Constituição, isso é o retrato do desrespeito com o ser humano. Espero que a Secretaria de Saúde tome providências para evitar que essas coisas aconteçam novamente", disse Faraj.
Segundo o diretor do Departamento de Média e Alta Complexidade da Secretaria Estadual de Saúde, o médico Irvando Carula, o estado está trabalhando para melhorar a oferta de leitos de UTI. Segundo ele, de 2003 até hoje houve um aumento de 50% no número de leitos especiais. O médico disse que as filas de espera sempre existem, mas o número de pacientes que aguardavam ontem era uma exceção. "Normalmente não são tantas pessoas esperando", disse. Na segunda-feira, de acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, 28 pacientes esperavam por uma vaga. Desses, 20 conseguiram internamento.
Segundo o médico, o maior problema ocorre nos atendimentos de alta complexidade. Geralmente, a maioria dos pacientes que aguarda por uma vaga em UTI precisa deste tipo de serviço. Em todo o estado, 75 unidades estão capacitadas para esse tipo de atendimento, o que, na visão de Carula, ainda é pouco.
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