"Seu apartamento tem problemas. Está carregado de más energias. Vamos vendê-lo para a senhora se livrar dos fluídos ruins." Foi isso que a fotógrafa Marise Fers Cotait, 51 anos, teria escutado ao passar por uma consulta de numerologia em uma casa cigana, localizada na Rua Gonçalves Dias, no Batel, em Curitiba, em junho do ano passado. Mal sabia ela que essa sessão mudaria sua vida radicalmente.
Marise conta que após ter vendido o apartamento no valor de R$ 108 mil no bairro Bigorrilho, ela teria caído em um golpe e repassado às duas ciganas que perceberam "os maus fluídos" cerca de R$ 98 mil. Segundo ela, uma parte foi para pagar pelas consultas e "trabalhos" realizados pelas sortistas e outra como empréstimo. O caso foi parar na polícia, que investiga se a fotógrafa foi vítima de estelionato.
Marise teria se interessado pelos serviços oferecidos pela cigana Michele Yovanovitch e pela mãe dela, Fabiane, por meio de um programa de televisão. "Eu estava em estado de depressão, triste por problemas emocionais e resolvi ir até a casa para fazer uma consulta. Depois disso, a Michele e a Fabiane passaram a freqüentar minha casa todos os dias", conta.
Depois de contar os problemas pessoais às ciganas, a vítima resolveu seguir as orientações das sortistas. "Elas me disseram que vendendo meu apartamento tudo estaria resolvido. Vendi. Foi aí que começaram a me extorquir. Exigiam dinheiro pelos trabalhos feitos e para uma tal de corrente feita a um espírito. Mas afirmaram que meu dinheiro seria devolvido no final da corrente, em fevereiro. Mas até agora, nada", explica.
Marise tem comprovantes de depósitos e transferências bancárias feitas na conta das ciganas. Um documento mostrado por ela aponta que no dia 30 de agosto de 2006, ela fez uma transferência de R$ 30 mil. "Quero meu dinheiro de volta. O que fizeram comigo foi uma lavagem cerebral", diz, revoltada. Atualmente Marise está morando em um quarto de um hotel modesto em frente à Rodoferroviária de Curitiba e diz passar por dificuldades. "Estou afastada da minha família e não sei até quando vou ter dinheiro para fica aqui", lamenta.
De acordo com o delegado do 3.° Distrito Policial, Celso Neves, que acompanha o caso, as ciganas não estão mais no mesmo endereço. "Estamos conduzindo o inquérito e esperamos que elas se apresentem o mais rápido possível para se explicarem. Já fomos até o endereço solicitado, mas não encontramos ninguém", relata.
Segundo o advogado de Michele, Nonato Siqueira, ela mora em Palmeira, no Paraná, mas foi para o estado do Pará cuidar de negócios da família. "Ela deve vir para cá em no máximo 20 dias. Ela estava aqui no último feriado, mas não houve possibilidade de apresentá-la para se defender das acusações", afirma.