Curitiba Gina Gulinelli Paladino, assessora econômica da Federação das Indústrias do Paraná, faz parte do grupo de trabalhadores paranaenses que têm renda média mensal superior a 20 salários mínimos (R$ 7,6 mil). "Não somos melhores nem piores do que os homens, apenas iguais", disse a executiva, mas mesmo consciente desta igualdade, ficou surpresa com o dado levantado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2006: nas faixas de rendimentos maiores, as mulheres ganham mais do que os homens.
Tradicionalmente, elas têm salários menores. Mas a pesquisa apontou o contrário, nesta faixa de renda, no Paraná e em mais oito estados: São Paulo, Mato Grosso, Ceará, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Roraima e Acre. Na média nacional, os homens aparecem com renda maior na maioria das faixas salariais, inclusive na mais alta.
O valor do rendimento médio mensal das trabalhadoras paranaenses que ganham mais de 20 salários mínimos é de R$ 13.781, enquanto o dos homens é de R$ 11.681. Em Curitiba e região metropolitana, as mulheres ganham R$ 12.462 e os homens, R$ 10.847.
"Isso é positivamente surpreendente. Acredito que uma hipótese que pode explicar esse dado é que as mulheres vêm registrando maior escolaridade formal do que os homens", sugeriu Gina.
Ela é economista com pós-graduação no Brasil, França, Japão e Suíça e foi diretora da Associação Nacional de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos. Sobre a possibilidade de o resultado da pesquisa refletir uma melhor capacidade de negociação salarial das mulheres, a economista é enfática: "A mulher não sabe negociar". Segundo ela, é o homem que sabe negociar salários, ao se apresentar com a tradicional imagem de provedor da família. "A mulher ainda pede licença para entrar no mercado de trabalho e negociar seu salário."
O headhunter Bernt Entschev lembrou que há mais mulheres do que homens estudando e que elas estudam por mais tempo. O resultado disso a longo prazo, completou, é que haverá mais mulheres em cargos de chefia e, conseqüentemente, com salários maiores. Segundo ele, isso ocorre com mais velocidade nas empresas de origens norte-americana e européia. "Mas uma coisa é certa: em empresas de primeira classe, sejam elas estrangeiras ou nacionais, já não há diferença salarial", afirmou.
Sônia Gurgel, presidente da seccional do Paraná da Associação Brasileira de Recursos Humanos e gerente de RH da Volvo, disse que não esperava por esse dado. "Inclusive, eu li recentemente uma pesquisa salarial de um determinado setor indicando que as mulheres em posição de liderança ainda ganham menos do que os homens", lembrou.
Ela mencionou que as mulheres continuam tendo de ser mais eficientes do que os homens para receber a mesma valorização. "Temos que mostrar mais". Para chegar lá, segundo Sônia, é preciso abrir mão de tempo com a família e de qualidade de vida. "Há um preço a se pagar, mas isso não vale apenas para as mulheres. Os homens também têm de fazer isso", garantiu ela, que é casada e tem filhos. O segredo? "Escolher um parceiro que compreenda a carreira da mulher, que aceite dividir tarefas às vezes. Carreira e família não são excludentes. É difícil, mas dá para conciliar", completou.
A consultora jurídica Leslie Costa, 46 anos, não ficou surpresa com a informação do IBGE. "Eu já tinha um cenário desses na cabeça", disse ela. Mas para chegar a este patamar salarial, Leslie teve de abdicar de muitas coisas. "Eu passei minha fase mais jovem trabalhando muito e deixei inclusive de ser mãe, entre outras razões, por conta da minha carreira", contou.
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