"Médico furou minha bolsa com a unha há 15 anos", diz mãe

Após a repercussão do atendimento dado à jovem, dezenas de mulheres da cidade se identificaram com o caso e relataram que sofreram os mesmos maus tratos. É o caso de uma delas, não identificada pois sua filha é menor de idade. "Há 15 anos eu sofri uma violência semelhante pelo mesmo médico. Ele furou a minha bolsa com a unha e não quis realizar o parto porque não havia dilatação suficiente. Fiquei quatro dias no hospital sofrendo e sendo humilhada", contou.

Segundo ela, o desrespeito as mulheres ultrapassa gerações, pois sua filha sofreu maus tratos nas mãos do mesmo profissional. A adolescente sofre de deficiência auditiva e disse que, na hora de seu parto, o médico gritava. "Ele achava que eu não o entendia. E dizia para as enfermeiras: mande essa surdinha de nada tirar a roupa. Me tratou como um animal", afirmou.

"No passado, fui eu. Ontem, foi minha filha. Hoje, foi essa menina... Quero evitar que minha neta sofra isso", disse a mãe.

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Dezenas de mulheres se reuniram em frente ao Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá, na tarde deste sábado (22) para pedir melhores condições no atendimento às grávidas da cidade. A manifestação foi marcada pelas redes sociais após o hospital ter supostamente negado atendimento a uma jovem de 17 anos. Um grupo já havia se reunido em frente ao hospital na sexta-feira (21) com faixas pedindo a direção do estabelecimento que afaste o médico responsável pelo caso. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) admite que a jovem que teve atendimento negado já estava em trabalho de parto pela manhã, mas negou que ela tenha sido orientada a voltar para a casa. A mulher, de 17 anos, estava de 41 semanas e após duas cesárias terem sido canceladas, chegou ao Hospital Regional com fortes dores na manhã de quinta-feira (20). A versão da família é que ela teve atendimento foi negado e, após desmaiar em frente ao hospital, a família procurou uma TV da cidade. Quando a grávida chegou à emissora, foi constatado que ela já estava em trabalho de parto e a mesma foi levada ao hospital.

A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou a jovem até o estabelecimento e, com a presença da imprensa, ela foi rapidamente atendida. Pouco mais de uma hora depois, o bebê nasceu. A família registrou boletim de ocorrência contra o médico por omissão de socorro. Segundo a avó da jovem, o médico responsável pelo atendimento disse que a família errou em alertar a imprensa. O profissional teria dito ainda que, por isso, a neta dela iria sofrer na sala do parto. O responsável pelo procedimento também teria afirmado à jovem que ela estava sendo irresponsável por ter uma segunda gravidez e que, na hora de "fazer o filho", não pensou nisso. Outro lado

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Em nota, a Sesa informou que "a orientação da equipe de saúde foi para que a gestante se mantivesse caminhando no hospital, o que facilita o trabalho de parto. A paciente não apresentava nenhum sintoma que indicasse a realização de parto cesáreo, pois não havia riscos para a mãe e o bebê. No entanto, a família resolveu deixar o hospital, voltando horas depois quando a paciente já estava em fase adiantada do trabalho de parto. A criança nasceu com saúde e já está no quarto com a mãe, tendo inclusive sido amamentada. A Secretaria de Estado da Saúde vai avaliar o atendimento da gestante e da família durante a internação da parturiente no Hospital Regional do Litoral".

A direção do hospital foi procurada, mas ninguém quis comentar o caso. Assembleia fará diligências no Hospital Regional na próxima semana O deputado Leonaldo Paranhos (PSC), que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Único de Saúde (SUS), na Assembleia Legislativa do Paraná, disse que casos de omissão na saúde têm sido recorrentes neste hospital e vai pedir uma investigação sobre o tema, inclusive com a realização de diligências, na próxima semana. A subcomissão de Violência Obstétrica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) também pretende ir ao Litoral para colher relatos de mulheres que passaram por algum tipo de abuso durante a gestação ou o parto. "Casos como estes representam violação de direitos humanos e fundamentais para as mulheres. São rotineiros e generalizados. A violência é silenciosa e banalizada pelo próprio agressor", disse a advogada Sabrina Ferraz Batista.

A subcomissão deve ainda colher relatos de mulheres em Paranaguá que sofreram violência do médico acusado e encaminhar para o Ministério Público e para o Conselho Regional de Medicina (CRM) para providências.