A violência familiar e doméstica contra a mulher é muito mais recorrente do que se costuma admitir: de acordo com o Mapa da Violência 2012: Homicídios de Mulheres no Brasil, o Sistema Único de Saúde atendeu mais de 70 mil mulheres vítimas de violência em 2011, sendo que 71,8% dos casos ocorreram no ambiente doméstico. Levantamento feito pela Fundação Perseu Abramo e Sesc em 2010 estima que cinco mulheres sejam espancadas a cada dois minutos no Brasil; o parceiro (marido, namorado ou ex) é o responsável em mais de 80% dos casos reportados.
Em dois meses, 17 mulheres foram vítimas de feminicídio no Paraná
Número mostra a urgência em discutir a violência contra mulheres e aprimorar políticas de proteção e assistência às vítimas. Leia a matéria completa
Apesar dos números alarmantes, pesquisas de percepção sobre a violência contra a mulher revelam uma distorção entre o que os brasileiros afirmam pensar sobre o assunto e a maneira como agem sobre episódios de violência. Por exemplo, levantamento do Ipea de 2014 mostrou que 63% dos entrevistados concordam que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”. O velho ditado “roupa suja deve ser lavada em casa” também faz sentido para 89% dos participantes, enquanto 82% manifestaram concordância com outra máxima popular: “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
Na avaliação do Instituto Patrícia Galvão (IPG), que elaborou um Dossiê sobre violência contra a mulher, essas percepções distorcidas auxiliam a manutenção de uma espécie de pacto de silêncio e conivência com esses crimes.
Assim, o comportamento violento é naturalizado e muitas vezes as próprias vítimas são desacreditadas e não identificam as violências às quais são submetidas – estima-se que se leva um longo período de tempo, que pode chegar a dez anos, para que a mulher tenha coragem de sair de uma relação violenta ou denunciar, interrompendo o ciclo.
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