Castro - O desmatamento ilegal de araucárias em uma propriedade de Castro, na região dos Campos Gerais, deve gerar uma multa de R$ 5 milhões. O flagrante foi feito por policiais da Força Verde, na última quarta-feira, na localidade de Guararema, graças a uma denúncia. Segundo levantamento feito no local, foram cortadas 1.057 araucárias, sete imbuias e outras 329 árvores nativas de diversas espécies com mais de 50 anos. A área devastada chega a cinco hectares. Estima-se que o reflorestamento deve demorar pelo menos 30 anos.
Além da multa, todos os envolvidos responderão a processo por crime ambiental e podem ser condenados a penas de um a três anos de prisão. "Para imbuia e araucária, que são árvores em risco de extinção, a multa é de R$ 500 para cada uma. As outras árvores nativas rendem R$ 300 de multa quando derrubadas. Cada hectare de destoca [retirada da raiz] também recebe multa de R$ 7,5 mil e as serrarias pagam por metro cúbico que beneficiaram. Ainda temos que finalizar os relatórios, mas as multas podem chegar a mais de R$ 5 milhões", avalia previamente o subtenente Jamil Dainelli, comandante do posto da Polícia Ambiental Vila Velha, em Ponta Grossa.
O policial conta que o proprietário tinha autorização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para realizar o corte e a destoca de 2,5 mil pinheiros plantados (não nativos), mas excedeu a licença. "Verificamos também que quatro serrarias da cidade receberam a madeira. Além delas, a empresa que realizou a destoca também vai ser indiciada, assim como o proprietário", disse. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados. Eles devem prestar depoimento dentro de 15 dias. Até lá, o estudo do impacto causado pelo desmate será concluído.
Segundo Dainelli, outro crime que vai ser apurado é o uso de autorizações legais (o DOF, documento de origem florestal) para acobertar a retirada das árvores. "Como tinha uma autorização para corte, usava os DOFs para legalizar a madeira extraída ilegalmente", explica.
Agressão à natureza
Para a bióloga e ambientalista Andresa Jacobs, do Grupo Fauna, de Ponta Grossa, o dano de um desmatamento como esse é incalculável. "Se fossem só as árvores em extinção, já seria um dano gravíssimo, mas existe toda a fauna que sobrevive no entorno, com áreas de reprodução, ninhos etc... Também acho um contrassenso o IAP conceder licença para corte de araucárias, mesmo as que não são nativas. Trata-se de uma árvore em extinção. No Paraná só restam 0,8% da cobertura original de araucária e na região (dos Campos Gerais) é só 0,2%. Por esse motivo, acredito que nem para as que foram plantadas deveria haver licença", defende.
Segundo Andresa, esse tipo de crime ambiental é muito comum no Paraná e isso se agrava porque as penas tendem a ser brandas. "Eles cortam a árvore normalmente durante a noite. Em alguns casos, enterram o tronco para não aparecer. Depois, por estradas secundárias, fazem o transporte. Isso continua a acontecer porque a tendência é suavizar as penas para esse tipo de crime. Nunca vi ninguém ser preso por isso", relata, lembrando que a única maneira de reverter essa situação é com fiscalização e denúncia.