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A líder comunitária Palmira Oliveira mostra o museu para o guia de turismo Luís Carlos dos Santos | Brunno Covello/Gazeta do Povo
A líder comunitária Palmira Oliveira mostra o museu para o guia de turismo Luís Carlos dos Santos| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Ao ser fundado, em 2011, o Mupe – Museu da Periferia – parecia não mais do que uma iniciativa curiosa, dentre as muitas surgidas nos arrabaldes de Curitiba. Nascido do mutirão e da boa vontade, poderia ter vida curta. Os anos vêm mostrando que não: o Mupe veio para ficar. Iniciativa dos líderes comunitários Palmira de Oliveira e Marcelo Rocha, a instituição está hoje integrada à rotina do bairro Sítio Cercado.

A ideia de criá-lo começou a se desenhar em 2009, quando teve início o programa federal Pontos de Memória, do Instituto Brasileiro de Museus. Criadores do Museu da Maré e Museu da Favela – ambos no Rio de Janeiro – visitaram o Sítio Cercado, deixando nos moradores o desejo de encontrar um lugar para preservar a memória dos bairros mais distantes. A primeira exposição, em dezembro de 2011, tratava da luta pela moradia.

Típico

O Mupe foi erguido num lugar que faz jus ao seu nome. Fica numa rua discreta, a Francisco José Lobo, a 20 passos do Arroio Cercado; ao lado da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular e nos fundos da Associação de Moradores Nossa Senhora da Aparecida da Luta. Um imenso grafite indica que o museu fica ali.

Não é grande. Ocupa uma sala de 70 metros quadrados, com duas divisórias e três seções: “Os Pioneiros”, “A Luta” e “A atualidade do Sítio Cercado”. Num primeiro painel, mapas do bairro antigo o mostram “cercado” pelo Ribeirão dos Padilhas, Arroio Cercado e Arroio do Boa Vista. Na sequência, fotos e genealogias da família de Izaac Ferreira da Cruz, dono da maioria das terras da região no início do século 20. “Os Cruz chegaram a ter um escravo alforriado, o Manequinho”, conta Palmira Oliveira. Ela é quem faz as vezes de guia sempre que uma escola agenda uma visita ao local.

No painel devotado a mostrar a chegada dos sem-teto – no início da década de 1990 – estão fotos doadas pelos moradores. Estampam os primeiros barracos de lona, os arruamentos, o barro, a precariedade, um cenário de fim de mundo. À época, os movimentos de habitação orquestraram a tomada de terras ociosas, lixões e grameiras, ajudando a fazer do Sítio Cercado essa cidade de 115 mil habitantes e de 37 mil domicílios.

Chamam atenção na coleção de objetos as cordas usadas para demarcar os terrenos, liquinhos – pois não havia luz – e uma sirene, instalada do lado de fora. Era usada para coordenar as ações da ocupação Xapinhal, nome nascido da junção dos bairros Xaxim, Pinheirinho e Alto Boqueirão. Outra atração é uma instalação com o nome das aguardentes mais populares entre os ocupantes: Risadinhas, Caroço, Mariquinha, Mãe e Cigana, entre outras.

A última etapa da visita mostra o Sítio Cercado de hoje em dia, com seu comércio que compete em variedade com o Centro da cidade e centenas de igrejas. Uma parede de fotos ilustra a variedade de torres, frontais e denominações que desafiam a imaginação. Para a líder, nem o Boqueirão tem tantos templos.

Serviço

Museu da Periferia (Mupe): Rua Francisco José Lobo, 213, Sítio Cercado. As visitas são feitas com agendamento. Fone (41) 8834-5221.

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