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Patrimônio da violência

Museu do IML tem histórias de arrepiar

Camargo mostra um dos crânios da exposição, que tem acesso restrito e é aberta só para maiores de idade | Antonio More/ Gazeta do Povo
Camargo mostra um dos crânios da exposição, que tem acesso restrito e é aberta só para maiores de idade (Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo)

Quem visita o museu do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba provavelmente sairá de lá tomado por duas sensações conflitantes: a fascinação e o repúdio. Primeiro porque ali estão guardadas três múmias de pessoas que morreram em decorrência da violência urbana ou por causa de doença. Segundo, porque depois de alguns minutos dentro do pequeno salão em formato de "L" – com um pouco mais de 30 m² – não é difícil concluir que a crueldade e a insanidade do ser humano não têm limites.

Localizado no subsolo do prédio da Avenida Visconde de Guarapuava, o museu tem acesso restrito. Mas desde sua fundação, em 1975, exerce uma importante função educativa para estudantes de Ciências Biológicas e criminais. Lá, pertinho do necrotério, estão expostos crânios, fotos de pessoas mortas e estraçalhadas e fetos com má formação conservados em potes de vidro com formol.

De acordo com o funcionário do IML Joel Camargo, que tem 30 anos de instituto e é curador do museu há 7, são cerca de 3,2 mil futuros médicos, advogados, dentistas e farmacêuticos que visitam o local por ano. "Ele foi criado com fins educacionais e científicos para contribuir no estudo da anatomia", explica.

Para quem imagina o museu antes de conhecê-lo, a primeira impressão ao chegar lá pode ser um pouco frustrante. Mas alguns instantes depois, a quantidade e a variedade de artefatos surpreendem. O acervo conta histórias de assassinos em série, psicopatas, magia negra, suicídio e até de um ladrão com fixação por calcinhas.

É Camargo o responsável por narrar as histórias, muitas, inclusive, macabras. Há de tudo: desde pessoas que introduziram objetos nas partes íntimas e morreram até um doente psiquiátrico que martelou um prego na própria cabeça. A má sorte também está entre os relatos. Um homem que estava em Morretes foi beber água em uma bica e, ao invés de usar as mãos, colocou a boca. Ele engoliu uma cobra coral, foi picado e morreu", diz.

Também é preciso ter estômago forte para ver as fotos coladas nas paredes do museu. "Nessa temos a cabeça de um menino que foi arrancada para um ritual de magia negra. Aqui temos um corpo que chegou despedaçado e nós tivemos que montar", explica Camargo.

Outros objetos que causam repulsa são os fetos. "Eles são vítimas da ingestão de medicamentos muito usados para fazer o aborto", fala Camargo, enquanto aponta para um feto conservado em um vidro com formol. Prática, aliás, proibida no Brasil.

De acordo com Joel, muitos dos casos que foram parar no IML – e hoje estão expostos no museu – são consequência do uso de drogas. Em um dos setores da exposição estão guardados objetos usados por usuários, como cachimbos e seringas, além das próprias substâncias ilícitas, como a cocaína e o lança-perfume. "Nós sempre procuramos alertar os jovens para o problema e o perigo do uso das drogas", enfatiza.

O IML do Paraná é um dos poucos do Brasil que mantém um museu exclusivo para o estudo da anatomia e da violência. É desaconselhável às pessoas mais sensíveis e proibido para menores de 18 anos. A visita ao museu, segundo Camargo, é uma experiência que ajuda os jovens estudantes a refletir e respeitar mais a vida. Camargo não soube especificar a quantidade de objetos e corpos que existem no acervo. Porém, afirma o curador, todos eles são de indigentes.

Serviço:

O museu do IML oferece visitas guiadas, as quais precisam ser previamente agendadas e autorizadas. Funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Está localizado na Avenida Visconde de Guarapuava, 2.652, subsolo do Instituto. Telefone (41) 3281-5600.

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