Camila Lopes, de 8 anos, nunca tinha ido ao museu: reconheceu o pilão, que faz “paçoca de carne”| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Impressões

Paçoca de carne e ferro a brasa são link entre passado e presente

Nem tudo é surpresa para os alunos. Na verdade, muitos conseguem estabelecer facilmente uma identificação entre a rotina dos tropeiros e o seu dia a dia no campo. Foi assim na Escola Municipal do Campo Tereza Casagrande Sguario, que fica em Paina – a 52 quilômetros de Castro.

Aluna do 4º ano do ensino fundamental, Camila Lopes reconheceu rapidamente o pilão. Quando ouviu a explicação sobre a fabricação de paçocas doces e salgadas feitas pelos tropeiros, ela logo contou que a mãe ainda usa o objeto para fazer paçoca de carne. A garota de 8 anos, que mora na localidade de Água Vermelha e precisa pegar ônibus para chegar à escola, nunca tinha ido ao museu antes e ficou impressionada com as peças. "Descobri que eu como comida de tropeiro," disse.

O reconhecimento também aconteceu facilmente com Hellen Gabrielly dos Santos, de 10 anos, que mora na localidade da Barrinha. A aluna do 5º ano do ensino fundamental contou, em tom de revelação, que a mãe usa o ferro a brasa. "Sabe aquele ferro de passar roupas de brasa? Minha mãe deixa em cima do fogão [a lenha] para passar nossa roupa".

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Brilho no olhar e sorriso no rosto. Essas são as reações que uma exposição itinerante realizada pelo Museu dos Tropeiros de Castro, nos Campos Gerais, provoca nas crianças. O projeto faz parte da 11.ª Semana de Museus do Instituto Brasileiro de Museus, que começou na última segunda-feira e termina neste domingo. Onze escolas municipais de nove localidades da zona rural da cidade receberão a exposição. Mais de mil crianças entre 6 e 10 anos devem ser beneficiadas.

A ideia de levar o museu até as escolas surgiu de um grupo de funcionários e de integrantes da Associação de Amigos do Museu dos Tropeiros de Castro. Baseados no tema proposto pelo Ibram (Memória + criatividade = mudança social), eles quiseram apresentar às crianças partes desconhecidas da história. "Muitos nunca foram a Castro, muito menos no museu. Eles ficam impressionados. Há uma identificação incrível da realidade deles com algumas peças", diz a funcionária Fabiana Hey Pinto.

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O trabalho, em sistema de voluntariado, conta com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, que cede o carro para o transporte das peças. O dia das escolas no museu é sempre às segundas-feiras. Funcionários (que estariam de folga) e integrantes da associação se reúnem de manhã para separar os objetos e carregar o carro. A viagem é demorada e cansativa – leva mais de uma hora em estradas de chão.

O professor aposentado João Maria Ferraz Diniz, 72 anos, é um dos voluntários. Ele produz peças interativas, como quadros, histórias em quadrinhos e esculturas. "Era uma coisa que eu tinha vontade de fazer e não tinha tempo: apresentar a nossa rica história. Temos o dever de transmitir essa parte esquecida".

A exposição itinerante deve seguir até o mês de julho e tem apresentado bons resultados. A historiadora e voluntária Amélia Podolan Flugel conta que as crianças ficam encantadas. Segundo ela, os pequenos apreciadores prestam muita atenção nas explicações e adoram "brincar" com as peças produzidas pelo professor. "O que as deixa de olhos arregalados é saber que essa realidade deles é importante a ponto de ser retratada num museu" explica.