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Acervo será colocado na internet

Dois anos depois da morte de Cândido Mello, a pilha de documentos sobre o integralismo e o anarquismo estava no museu da UEPG. Mas foi a partir do ano passado que a direção delegou ao estagiário Fábio Bombardelli, bacharel em História, a higienização e a catalogação do acervo. O trabalho é moroso e detalhista.

"Muita coisa já estava se deteriorando, mas foi possível salvar grande parte do material", afirma. Entre recibos e documentos do partido foi encontrada a revista Anauê, publicada em outubro de 1935 com os ideais do movimento. Anauê era a saudação feita pelos partidários quando levantavam a mão direita para o céu.

O diretor do museu, Roberto Edgar Lamb, acredita que o trabalho se estenda até o fim do ano. Ele pretende compilar os documentos, com nomes e datas, em pastas suspensas nos armários do setor de arquivos e fotografar os registros para colocá-los num site que servirá de fonte de pesquisa. "O site vai conter indicações e algumas imagens, porque não podemos tecnicamente colocar tudo na internet", diz.

Ponta Grossa – Recibos, recortes de jornais, fotografias e correspondências usadas por membros do movimento integralista nos anos 30 e 40 por pouco não foram consumidos pela ação do tempo. O documento histórico estava no forro de um antigo casarão no centro de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e foi doado pela viúva do filho de um tesoureiro do partido ao museu pertencente à Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O acervo está em fase de recuperação. A intenção é montar um site com indicações para pesquisas até março do ano que vem, quando o museu completa 25 anos.

Os integralistas ganharam o apelido pejorativo de "galinhas-verdes" pela cor do uniforme e pelo jeito imponente de marchar. Eles representavam a classe média, eram extremamente conservadores e defendiam ideais como a ordem e o catolicismo. Chegaram a apoiar o governo de Getúlio Vargas, mas se sentiram traídos ao ver o então presidente extinguir a Ação Integralista Brasileira e passaram para a oposição. Na repressão do Estado Novo, entre 1937 e 1945, integralistas foram presos ou mortos.

Antero de Mello era tesoureiro do partido em Ponta Grossa, que possuía mais de 500 integralistas na época. Por medo da ação dos agentes do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), a esposa de Mello, Luísa Crollanti, escondeu os documentos do movimento no forro do casarão. Ficaram lá por cerca de 40 anos, até serem encontrados por um pedreiro que fazia a reforma no telhado na década de 80. Foram parar com o filho de Antero, o médico Cândido de Mello Neto.

Na época, Cândido reunia documentos para escrever um livro sobre a Colônia Cecília, principal experiência brasileira de anarquismo ocorrida entre os anos de 1890 e 1893 no município de Palmeira, Campos Gerais. Despretensiosamente, acreditou que o material escondido pelos pais poderia representar mais do que papéis velhos já que a mãe era descendente dos imigrantes europeus que formaram a colônia. Com base no acervo e outras fontes de pesquisas, em 1998 Cândido publicou O Anarquismo Experimental de Giovanni Rossi, pela editora da UEPG.

Cândido morreu em 2000 e a viúva, Regina Mello, conta que entre os documentos estavam 465 registros do anarquismo e 1.070 do integralismo. O número exato só foi conhecido recentemente, quando, reconhecendo a importância histórica do acervo, Regina contratou uma bibliotecária para fazer a compilação. "Conversei com meus três filhos e chegamos à conclusão de que a doação do acervo para o museu seria uma homenagem à herança histórica deixada pelo meu sogro e meu marido."

O museu da UEPG resgatou o antigo escritório de Cândido Mello com a bengala do médico, os livros, fotografias, a estante e a escrivaninha em madeira nobre. Para a historiadora Carmencita Dietzel, o material é muito importante para quem estuda o integralismo porque grande parte dos documentos foi destruída pela repressão ou os próprios integrantes do movimento. Em 2004 ela defendeu tese de doutorado (Manifestações autoritárias: o integralismo nos Campos Gerais, 1932 a 1955) na Uni-versidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e reconhece que as fontes sobre o tema são raras. Alguns documentos podem ser encontrados no Arquivo Público de Curitiba e na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre.

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