Em março de 2008, a reportagem Gazeta do Povo passou uma tarde com cinco adolescentes grávidas, moradoras da Vila Esperança, no Atuba. Elas participavam de um programa de apoio, na unidade de saúde da comunidade. O texto, publicado no Dia da Mulher daquele ano, revelou um pouco do universo muito particular das meninas que deixavam de ninar bonecas para ninar os primeiros filhos.
De volta à Vila Esperança em 2015, o jornal reencontrou duas das cinco entrevistadas – as irmãs Jéssica e Maiara Garrido, hoje com 23 e 25 anos respectivamente. Elas repetiram em parte o padrão das “mães menininhas”. Tiveram mais filhos em sequência – três cada uma delas – e provaram da fragilidade causada pelo abandono escolar.
Uma permaneceu no relacionamento inicial, outra não. Especialistas apontam que as adolescentes que engravidam tendem a não prosseguir com o mesmo companheiro. Foi o caso de Maiara – cujos filhos vieram de três ligações diferentes. Jéssica permanece com o marido. À época da primeira reportagem, ela afirmava ter certeza do namoro e de que a gravidez era uma opção.
Para a médica hebiatra Júlia Cordellini – que em 2008 estava à frente do programa Adolescente Saudável, da prefeitura – “a gravidez dá o filho, mas não a maternidade”. Sua observação vem de “uma vida” como observadora do comportamento das mães meninas. Júlia reivindica os cuidados da sociedade para com essas mulheres, pois elas precisam construir o “ser mãe”, numa fase em que ainda estão em formação.
“Elas ganham o status da maternidade, o que lhes dá um refresco, em especial nas comunidades carentes. Mas tendem a ser culpabilizadas, tendo de enfrentar sozinhas o cuidado dos filhos”. Uma das novidades do programa então criado pela médica era o de promover, nas unidades de saúde, a continuidade da juventude dessas meninas.
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