Segundo levantamento das prefeituras de Ponta Grossa e Londrina, o setor que mais sofre com afastamentos é o da educação. No total, são 246 funcionários na área educacional em licença em Ponta Grossa. Em Londrina, a área responde, em média, por 70% do total de afastamentos, o que corresponde a cerca de 290 servidores. De acordo com as administrações municipais, o principal motivo é a depressão, resultado do desgaste no trabalho.

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"Minha mãe foi professora e, pelo estresse, muitas vezes teve problemas. Mesmo depois de aposentada, ainda sente os efeitos por segurar muito tempo o giz com o braço levantado ao escrever no quadro", exemplifica o secretário de Gestão Pública de Londrina, Jacks Aparecido Dias.

Medicação

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Para o secretário de Governo de Ponta Grossa, José Ruiter Cordeiro, o alto número de licenças se deve ao ambiente de trabalho na área. "Uma sala de aula é desgastante. A depressão, embora possa ter contra si mil argumentos, é possível nesse exercício cotidiano", afirma. Curiosamente, ainda neste mês, a prefeitura recebeu o Prêmio Nacional de Inovação em Gestão Educacional, concedido pelo Ministério da Educação.

O alto índice de afastamentos em Ponta Grossa levou o Sindicato dos Servidores Municipais a realizar uma pesquisa sobre as causas apontadas pelos educadores, em 2004. O resultado foi preocupante: 68% dos professores tomam algum medicamento para controle neurológico. "É conseqüência do excesso de jornada, às vezes acima de 12 horas, equipamentos sucateados, o que gera frustração no trabalho", afirma o presidente do sindicato, Leovanir Martins.

Transtorno bipolar

Uma professora ponta-grossense de primeira série começou a sentir os efeitos da depressão em abril deste ano. "Comecei a desmaiar de tão nervosa que ficava com os alunos e a sentir dores fortes no peito", disse. A partir de abril, deixou de trabalhar na profissão que já exercia há 11 anos. Seu humor começou a ficar instável, as crises de choro aumentaram e ela viu sua própria vaidade acabando. "Hoje não sinto vontade de pôr um colar, um brinco, usar batom, não vejo estímulo", disse. Casada e mãe de um menino de três anos, ela se sente culpada por não ter mais paciência com a criança. "Em 11 anos tive paciência com os filhos dos outros, agora não tenho com o meu", lamenta. Ela toma dois tipos de medicamentos e o diagnóstico passou para transtorno bipolar. "Já tentei fazer academia e aulas de dança para relaxar, mas me estressei mais ainda", completa. Na sua avaliação, o estado depressivo não se deve apenas ao trabalho, mas ao modo de vida. "O ser humano não merece uma vida como essa, deveria ter mais tranqüilidade", diz. Apesar de ela não ter previsão de alta, planeja voltar a trabalhar no fim de janeiro do próximo ano.

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