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Ao que parece, pouco aprendemos com o caso de estelionato eleitoral do qual Dilma Rousseff é acusada. Seus críticos, e até mesmo Lula, afirmaram que na eleição ela falou uma coisa, mas no segundo mandato fez outras. De fato: temas como revisão da previdência e ajuste fiscal, perseguidos em 2015, eram atribuídos aos adversários, nunca assumidos como bandeira petista. Dilma prometeu uma coisa, fez outra. Foi punida – teoricamente por crime de responsabilidade, mas na prática pelo conjunto da obra.

Ficou alguma lição para os políticos? Não. Na campanha eleitoral municipal, os candidatos usam e abusam de várias estratégias de estelionato eleitoral. Dizem que vão resolver todos os problemas da cidade, copiam programas de adversários, não explicam como vão ter recursos para tantas propostas e até admitem que é melhor não falar sobre alguns assuntos, sob pena de perder votos.

Os candidatos vão resolver o problema da falta de leitos de UTI, diminuir o tempo de espera nas unidades de saúde, dar vagas para todas as crianças que precisam de creche, vão solucionar o problema da mobilidade, vão tratar com atenção especial crianças, idosos, mulheres, jovens, empresários, moradores de ruas, animais de rua, jovens, empreendedores, portadores de deficiência, o pessoal da periferia, para ficar só nos principais.

Como vão fazer isso? Ah, os candidatos têm ótimas soluções. Inovação. Melhorias na gestão.

Pergunta: como será a inovação, como melhorar a gestão? Ah, quando assumirem o cargo vão analisar todas as contas, fazer um pente-fino em todos os programas, reduzir custos e com isso será possível fazer todos os investimentos! Que ótima solução! Como ninguém pensou nisso antes?

É uma palhaçada o que vivenciamos. Não há solução para o problema no curto prazo, infelizmente. Mas podemos planejar mudanças para o futuro. Seguem algumas propostas. São restritivas, o que pode suscitar críticas, mas a liberdade de expressão está assegurada.

1) Programas eleitorais serão gravados no estilo banquinho e violão. Apenas o candidato, sentado, falando ao microfone. Ele pode substituir o instrumento por um bloco de notas, se preferir.

2) Todos os candidatos terão tempo igual para falar, três minutos diários.

3) Os programas serão temáticos e haverá pelo menos 15, sobre os seguintes temas: educação infantil; ensino fundamental; prevenção à saúde e atenção básica; atendimento de emergência e de complexidade; abastecimento; assistência social; esporte e lazer; idosos; transporte público; transporte particular; funcionalismo público; gestão e transparência; tributos municipais; lixo e saneamento; parques e praças.

4) O candidato terá mais 5 programas de temática livre.

5) Para cada promessa que o candidato fizer, ele vai ter que falar algo que vai deixar de fazer. A medida é necessária já que políticos (e eleitores) parecem esquecer o fato de que o serviço público não pode e não deve fazer de tudo.

6) O candidato que não cumprir o quesito anterior será punido e perderá o direito de falar sobre suas propostas no programa seguinte. Poderá optar entre: a) segurar um cartaz com os dizeres “desculpe, não sou preparado o suficiente para o cargo”; b) “desculpe, sou mentiroso”; ou c) “desculpe, sou desonesto”.

7) Se a regra nº 5 for descumprida no último programa eleitoral, o candidato será punido com troca de foto da urna no dia da votação. Em vez de sua foto, vão constar os três cartazes citados no item 6.

8) Independentemente do resultado, o candidato vencedor terá que fazer o seguinte pronunciamento: “Prometo nunca reclamar de herança maldita”.

Palhaçada por palhaçada, essas regras eleitorais bem que poderiam entrar em vigor.

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