A estudante Camila Alves da Silva, de 16 anos, teve duas surpresas ao final do período de licença na escola para cuidar da filha recém-nascida. A primeira foi ruim: ela descobriu, assim como muitas mães curitibanas, que a estrutura pública de creches não é suficiente para atender à demanda e que a filha Elisa, hoje com 10 meses, não poderia ser atendida pela rede. Na sequência, a boa notícia: a direção da escola em que estuda, na Cidade Industrial de Curitiba, autorizou que ela frequentasse a sala de aula levando o bebê, o que a impediu de abandonar os estudos.
"Para nós é preferível que ela venha com a criança do que fique em casa e perca mais um ano", explica Joaquim Faustinani, diretor do Colégio Estadual Rodolpho Zaninelli, na Vila Verde. Camila não é a única nesta situação. Há ao menos mais uma estudante que leva o filho para a sala de aula no colégio. A prática não é combatida nem incentivada pela Secretaria de Educação do Paraná. Segundo a assessoria de comunicação, não existe uma norma geral na rede estadual sobre o assunto. A decisão cabe à direção de cada colégio. O mesmo acontece nas escolas da rede particular do Paraná.
Prós e contras
A hebiatra Júlia Cordelini, que já coordenou ações voltadas para adolescentes na rede municipal de saúde, vê na abertura da escola para mães adolescentes um avanço, no sentido de evitar a evasão escolar. Ela pondera, porém, que isso não vai ocorrer sem efeitos indesejados. "A mãe precisa entender que a escola não é o lugar adequado para a criança, em função do barulho. Além disso, deve estar ciente de que seu aprendizado também não ocorrerá em condições ideais, uma vez que precisará dar atenção ao filho."
Júlia ressalta ainda a necessidade de a família dar todo o apoio possível e necessário para as adolescentes. "Os pais não podem deixar de ajudar, como forma de punição, principalmente por se tratar de um adolescente, que ainda não é maduro o suficiente."
Já a psicopedagoga Evelise Portilho, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), desaprova a medida. Ela diz que o estudo, como o trabalho, requer concentração total. A partir do momento em que a mãe precisa distribuir a atenção entre os professores e a criança, a queda no rendimento escolar é inevitável. "A escola não pode assumir uma responsabilidade que é do Estado. Ela quer ajudar, mas não tem estrutura para atender bebês."
Prática antiga
Levar filhos pequenos para a sala de aula não é necessariamente uma novidade. Há 15 anos, Cecília Alberton Schaefer fez isso. Ela tinha 24 anos e cursava a faculdade de Relações Públicas quando ficou grávida. Durante a semana tinha com quem deixar a filha, Maria Tereza. O problema era para frequentar as aulas de sábado, quando levava a pequena. "Era uma situação esporádica, tanto que nem cheguei a pedir permissão da faculdade." Segundo Cecília, professores e colegas sempre a recebiam bem. "A bebê tumultuava um pouco as aulas, mas nada que me fizesse perder a atenção nem tirar a de meus colegas. Os professores chegavam a segurá-la no colo para eu fazer as provas."