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Vida sexual

Na falta de Viagra próprio, elas recorrem ao dos homens

Dez anos depois do lançamento do Viagra, droga que revolucionou a vida sexual de 35 milhões de homens em 120 países, as mulheres continuam sem perspectivas de ter um medicamento para tratar a disfunção sexual feminina. Pesquisas já foram feitas, mas os resultados pouco satisfatórios fizeram com que os estudos fossem abandonados. A própria Pfizer, fabricante do Viagra, chegou a iniciar um estudo para verificar os efeitos da medicação na população feminina, em 2004, mas a falta de resultados precisos fez com que o laboratório desistisse da empreitada. Estudos independentes, no entanto, já demonstraram que a droga pode ter efeitos positivos no desempenho sexual das mulheres.

Uma pesquisa feita pela ginecologista Ana Lúcia Cavalcanti, como tese de doutorado apresentada no Departamento de Ginecologia da Universidade de São Paulo, concluiu que o Viagra também é capaz de aumentar o prazer sexual feminino. A explicação estaria no efeito vasodilatador, que assim como no pênis, aumentaria a circulação sanguínea, a sensibilidade, a lubrificação e conseqüentemente a intensidade do orgasmo nas mulheres.

O estudo foi feito com 22 mulheres entre 49 e 59 anos, todas na menopausa, com alguma disfunção orgástica, como ausência ou retardo do prazer sexual. Elas foram submetidas a um exame que mede a resistência do sangue e sua velocidade dentro do vaso, antes e depois de tomar o medicamento. Além disso, as voluntárias tomaram o medicamento uma hora antes de ter relações sexuais durante 15 dias.

O resultado foi significativo: 99,9% das mulheres que tomaram o Viagra afirmaram aumento na lubrificação vaginal e 68,9% disseram que a intensidade do orgasmo e a sensibilidade do clitóris também cresceram. No entanto, pacientes que tomaram placebo (pílula sem efeito), também relataram melhoras: 18,9% declararam mais prazer clitoriano. "É preciso considerar o efeito psicológico, na mulher a sexualidade envolve muito mais do que apenas as funções fisiológicas", observa a pesquisadora.

Segundo ela, é justamente essa subjetividade que dificulta as pesquisas na área. Para a pesquisadora, é muito mais fácil pesquisar uma droga para os homens porque o mecanismo masculino de excitação é muito mais linear. "Na mulher isso é algo subjetivo, ela pode ir para o sexo sem desejo, à medida que é estimulada pelo parceiro ela vai se excitando. Só que os mecanismos envolvidos nesse processo de excitação ainda não são totalmente conhecidos. Há interferência de uma série de fatores psicológicos, sociais, culturais", afirma. "É diferente do homem que quando se excita tem a ereção, na mulher é difícil de identificar isso", completa.

Para o gerente de medicamentos da Pfizer, Eurico Correia, a sexualidade feminina ainda é uma área muito nebulosa. "A disfunção sexual na mulher é algo muito subjetivo, não há fontes claras para avaliar o grau de disfunção. As pesquisas ainda buscam uma maneira de avaliar e definir o que é a disfunção sexual nas mulheres, mas isso envolve muitas coisas, o peso emocional é muito grande", afirma. Embora o laboratório não esteja desenvolvendo estudos com o Viagra ou para o desenvolvimento de outra droga voltada para o público feminino, ele não descarta a possibilidade de no futuro a empresa voltar a pesquisar nesse ramo.

Para Ana Lúcia, embora os resultados tenham mostrado que a droga pode trazer benefícios, é preciso cautela no uso. "Acho que o Viagra não pode ser visto como uma solução para os problemas sexuais femininos, até porque muitas vezes o problema vai muito além do fisiológico. Acho que para um momento terapêutico específico ele pode ter seus benefícios, mas não deve ser encarado como algo milagroso. É preciso ver todo o contexto, o que está deixando aquela mulher insatisfeita", afirma. Por não se tratar de uma terapia hormonal, em geral o Viagra apresenta poucos efeitos colaterais. No entanto, não deve ser usado por quem sofre de patologias cardíacas, isso porque o efeito vasodilatador pode alterar a pressão arterial.

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