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Vandalismo

Na internet, até pichar é bonito

 | Benett
(Foto: Benett)

Para essa turma, pouco importa o poder público anunciar que são gastos R$ 1,3 milhão todos os anos para apagar pichações em Curitiba. As promessas dos candidatos à prefeitura de combater a prática também não intimidam. Grupos pró-pichação sentem-se à vontade para fazer propaganda aberta de seus feitos em redes sociais e blogs. Nessas páginas da internet, o ato de sujar muros é visto como protesto social, expressão artística e forma única de "sentir adrenalina".

Perfis no Facebook, como XarpiBrasil e Revistha, somam quase 3 mil "curtidores". Os apoios à pichação variam de frases curtas, com gírias e desvios da norma padrão do português até manifestos com tom acadêmico. Texto atribuído a Diogo Mitzrael diz que "os pichadores possuem mais intimidade e afinidade com a palavra do que com o objeto visual pictório que traz junto o conceito de grafite e toda sua estética artística".

Na rede, determinadas gangues são louvadas pelo domínio de técnicas de difícil execução, como o uso de extintores de incêndio para pichar em grande escala. A reprodução fotográfica da pichação sobre o painel de Poty Lazzarotto na Praça 19 de Dezembro, por exemplo, recebeu 32 "curtir" no Facebook e comentários como: "Obra de arte em cima de obra de arte".

Diferentes tribos

Tanto pichadores (que costumam grafar letras estilizadas) quanto grafiteiros (que usam mais recursos de cores e desenhos) se ramificam em subdivisões. Os grafiteiros que espalham seus desenhos sem autorização de proprietários chamam a si próprios de "vandals". Aqueles que só trabalham com o consentimento do dono do muro são tachados de assimilados e, muitas vezes, são discriminados em comunidades virtuais voltadas à pichação.

Já os pichadores se distinguem em três grupos de atuação: os que sobem em topos de prédio, os que se penduram em janelas e os que não correm tantos riscos, mas fazem questão de ver a assinatura de sua gangue no maior número possível de locais da cidade.

Algumas características contam pontos entre os grupos de pichadores, como a dificuldade de acesso ao local da pichação, a extensão e firmeza das letras grafadas e o fato de conseguir pichar em plena luz do dia ("De dia é mais loucura, mais adrenalina", diz um comentário na internet). E no mundo da pichação há até código de ética: é proibido pichar sobre a pichação de outra pessoa.

A pichação do prédio giratório Suite Vollard, em abril deste ano, gerou repercussão mundial para Curitiba em comunidades que defendem a prática. De acordo com grupos ouvidos pela reportagem, o fato pode estar relacionado com a explosão do número de pichações na cidade (leia mais nesta página). "Quanto mais a mídia combater os pichadores, mais surgirão outros novos. Vira motivo de orgulho", comentam.

Denúncias

Para denunciar atos de vandalismo, ligue para o número 153.

Entrevista"A pichação nunca vai acabar"DG, 28 anos, programador e pichador

Desde os 12 anos, o programador DG, 28 anos, faz pichações por Curitiba. Espalhar assinaturas de sua gangue, a "Cretinos", pela cidade é motivo de orgulho para ele. DG fala de seus feitos como um artista que almeja a imortalidade por meio de sua obra.

Por que você é pichador?

Comecei vendo no meu bairro e pensei: "Isso é massa". Para quem não tem como se expressar, é uma forma de sair do anonimato.

Por ano, são gastos R$ 1,3 milhão com a limpeza de pichações em Curitiba...

Eles vão ter de continuar gastando isso para sempre. Os políticos são hipócritas. Perseguem a gente, mas fazem propaganda eleitoral ilegal em muros, usam placas não autorizadas, jogam santinhos no chão. A pichação nunca vai acabar, é a maior manifestação de rua do mundo.

A pichação é um ato de vandalismo?

Vandalismo, para mim, é quebrar, apedrejar, destruir. O muro está ali e vai continuar no mesmo lugar, apenas cobrimos com tinta. Sabe, estou desempregado agora, mas tenho profissão, não sou criminoso. A única coisa que faço de errado é pichar.

Você tem filhos? Conta para eles que é pichador?

Tenho três filhos. Não conto para eles porque sei do risco que é, não quero que sigam esse rumo. Fui preso uma vez e me cobriram de pancada.

Pichar é uma forma de protesto?

Eu não estou protestando contra nada. Protestar é levantar bandeira nas universidades. Não faço isso. Eu me dedico ao que gosto.

Você não se sente mal ao desvalorizar a propriedade de alguém?

Quem picha não tem esse sentimento. Vê aquilo como uma obra de arte. Muita gente acha que é rabisco, mas para conseguir acertar um traço reto e grosso, sem régua, certinho... (AS)

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