A prefeitura de Curitiba deve começar ainda neste ano a discutir dois novos planos urbanísticos para a cidade: um voltado para o centro e outro de sustentabilidade que deve, principalmente, nortear ações em bairros distantes da região central. Os estudos serão realizados pelo Instituto de Pesquisa de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e vão complementar o Plano Diretor da capital, que, por força de lei, será rediscutido em 2014.
Segundo o presidente do Ippuc, Sérgio Pires, a concepção dos dois novos planos atende a uma necessidade de planejar a cidade para as próximas décadas. "Nossa obrigação para 2014 é o plano da cidade, mas pretendemos deixar uma proposta para os próximos 20, 30 anos. Sempre tivemos um norte, mas ele hoje não é suficiente para as novas demandas da cidade. O que está em jogo é você transformar o grande em pequeno", afirma.
Apesar dos planos ainda serem incipientes, Pires já apresenta algumas sugestões do que eles devem propor. "Teremos de atuar no desenvolvimento econômico e nas questões edificada, social, cultural e ambiental", diz o presidente do Ippuc antes de ser mais específico sobre uma das principais demandas do centro: a redução da criminalidade. "Podemos flexibilizar horários do comércio. Quanto mais pessoas nas ruas, menor os índices de criminalidade", sugere.
Estacionamento multiuso
Outra ideia do Ippuc pode ser dar nova utilidade aos terrenos hoje ocupados por estacionamentos. Não que eles deixariam de existir, mas podem passar a cumprir mais de uma função. "Alguns desses estacionamentos na área central ocupam grandes terrenos apenas para guardar carros. Talvez possamos propor algum incentivo para ter outro tipo de atividade, deixando o centro vivo e aproveitando melhor os espaços", explica Pires.
Uma das primeiras cidades brasileiras a efetivamente seguir um plano diretor, Curitiba tem até hoje marcas do seu sistema radial de vias ao redor do centro projetadas pelo Plano Agache do distante 1943. Mesmo com todo o planejamento, alguns bairros que surgiram às margens dessas grandes avenidas acabaram isolados do resto da cidade.
Entre outras medidas, o Plano de Desenvolvimento Sustentável, que deve ser lançado em 2015 (ano de comemoração dos 50 anos do Ippuc), pretende dar nova vida aos bairros. De acordo com Pires, a ideia é voltar a encarar os antigos centros de bairro, incentivando as pessoas a trabalhar perto de onde moram. Além disso, esse plano dará direções de toda parte de acessibilidade", afirma Pires.
Uma das possibilidades estudadas pelo Ippuc para valorizar os bairros é negociar com a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) e a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) a implantação da integração temporal nos ônibus para incentivar a circulação de pessoas ao redor dos terminais de ônibus. Isso porque, com essa modalidade de integração, a pessoa não precisa ficar dentro do terminal para embarcar em outro ônibus sem pagar.
Especialistas divergem sobre planos
Apesar de concordarem sobre a necessidade de planejamento da cidade, urbanistas divergem sobre as primeiras propostas da prefeitura para os planos de desenvolvimento do centro e o de desenvolvimento sustentável. De acordo com Carlos Hardt, diretor do curso de arquitetura e urbanismo da PUC-PR, ambos os planos podem ser importantes para a cidade, desde que não se perca a visão do conjunto.
"Curitiba é muito bem avaliada no planejamento porque ela conseguiu manter uma coerência. Mas acho que uma nova vida é boa para os bairros. As ruas da cidadania, por exemplo, já foram ao encontro da descentralização dos serviços públicos. A mesma coisa deveria ser para o lazer, pois cada um dos bairros tem de ter o seu espaço para atender a vizinhança", afirma.
Já Fábio Duarte, também professor da PUC-PR, vê como utopia a ideia de induzir as pessoas a trabalharem e morarem no mesmo bairro e acredita que um plano de ocupação do centro não mudará o perfil demográfico da região.
"Um órgão público não tem como ter ingerência sobre a decisão dos locais de trabalho e estudo da população. Isso é uma utopia. Sobre o centro, o que posso dizer é que já há um perfil demográfico na região que não mudará porque tem a ver com o perfil imobiliário (imóveis sem suítes e garagens). Esses estudos não podem partir de sonhos", diz o arquiteto.