Alexandre Nardoni, pai da menina Isabella, 5 anos, é o primeiro a ser interrogado pelo Tribunal do Júri nesta quinta-feira, quarto dia do julgamento. A madrasta da menina, Anna Carolina Jatobá, foi retirada da sala. Os dois são julgados por homicídio triplamente qualificado e fraude processual, por terem tentado limpar a cena do crime. Pela primeira vez, a mãe de Alexandre, Maria Aparecida, acompanhará o julgamento na plateia do Tribunal do Júri. A família Nardoni chegou ao local em um BMW, estacionou o carro dentro do fórum e não falou com a imprensa.
O interrogatório do casal, que começou às 10h45, com quase duas horas de atraso, atraiu mais de cem pessoas para o Fórum de Santana. A fila começou a ser formada na noite de quarta-feira para ocupar 20 lugares destinados ao público. Para dar chance a um número maior de pessoas, foi organizado um rodízio. Estudantes de Direito que pretendem seguir a área criminal eram maioria na fila.
- O caso é de repercussão. Vim hoje por causa do depoimento do Nardoni e da Jatobá - disse o universitário César Michelon, de 20 anos, que esperava para entrar no Fórum desde 4h.
Aluno de Direito, ele quer ver na prática o interrogatório do casal, que pode durar o dia todo.
Sem testemunhas do crime, só Alexandre e Anna Carolina poderão convencer os jurados de que são inocentes e que a perícia está equivocada.
Carro da SAP abre a porta ao levar
Alexandre Nardoni para CDP/Reoprodução de imagem TV Globo Na noite desta quarta, durante o trajeto de Fórum para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, a porta do caminhão que levava Alexandre Nardoni abriu em plena Marginal do Tietê. O comboio teve de parar para fechar o veículo. Nesta quinta, o casal foi levado ao Fórum e chegou por volta de 8h35m, em comboios separados.
Na quarta, o juiz Maurício Fossen decidiu que Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, permanecerá isolada no fórum. Inicialmente o juiz havia indeferido o pedido da defesa para que ela permanecesse no local. Uma hora depois, ele voltou atrás e decidiu pela permanência dela no local. O advogado dos Nardoni ainda estuda se vai pedir uma acareação entre eles e a mãe de Isabella.
Os advogados de defesa dos Nardoni surpreenderam ao dispensar oito das 10 testemunhas que falariam a favor do casal. Além da perita Rosângela Monteiro, que depôs durante cinco horas, arrolada pela acusação, apenas duas pessoas falaram pela defesa, sem acrescentar fato novo.
Uma delas, o escrivão Jair Stirbulov, do 9º distrito policial, falou apenas por 10 minutos. Ele contou que levou Anna Carolina Jatobá ao apartamento no dia seguinte ao crime. Ela teria argumentado que precisava buscar um celular. Depois, a madrasta da menina reconheceu que esteve com o celular o tempo todo. O jornalista Rogério Pagnan, da Folha de S.Paulo, confirmou ter ouvido do pedreiro Gabriel Santos Neto que o portão da obra em que ele trabalhava, nos fundos do prédio, havia sido arrombado. O próprio pedreiro, porém, foi dispensado do depoimento pelo advogado dos Nardoni
Para o promotor Francisco Cembranelli, a decisão de dispensar oito testemunhas mostrou que os advogados do casal tiveram um "desempenho pífio":
- Arrolaram 20 testemunhas, depois foram dispensando um a um esses pobres coitados que ficaram isolados sofrendo durante três dias - disse Cembranelli.
A possível acareação entre a mãe de Isabella e Alexandre Nardoni, na avaliação do promotor, seria um 'último ato de desespero'. O juiz, porém, decidiu que liberar Ana Carolina Oliveira seria cercear o direito de defesa do casal, previsto na Constituição.
Perita diz que sangue no lenço e na tela é de Isabella
O depoimento mais importante do dia foi dado pela perita Rosângela Monteiro. Ela confirmou que o sangue achado na tela de proteção da janela e no lençol de uma das camas do quarto dos irmãos era comprovadamente de Isabella Nardoni, 5 anos. Na camiseta usada pelo pai da menina, vincos deixados pela tela por onde a criança foi jogada, em formato de losangos, foram completamente compatíveis com a situação de alguém que, tendo 1m80 e pesando 90 kg (altura e peso de Alexandre), tenha pressionado a rede de proteção carregando um peso de 25 quilos (peso de Isabella).
Segundo Rosângela, a marca na camiseta não seria deixada se Alexandre tivesse apenas olhado pela janela e visto o corpo da filha caído no pátio do edifício, sem exercer pressão sobre a tela.
- A marca é indiscutível e única - atestou.
Rosângela explicou que os peritos calcularam de que altura o sangue caiu no chão e concluíram que Isabella tinha sido carregada no colo. Disse ainda que a residência dos Nardoni foi um dos locais de crime mais preservados em que ela já trabalhou.
- Tudo o que era necessário coletar foi coletado com o apartamento perfeitamente preservado - disse.