Educação para vencer a violência
No ano passado, um aluno de 12 anos abraçou o diretor Wilson Alves em dos corredores do Colégio Manoel Ribas. O menino passava por uma crise de abstinência: era viciado em crack. "Ele chorava e dizia: eu não quero mais fazer isso [usar crack], mas eu não consigo", lembra Wilson. Dias depois, o garoto foi assassinado. Apesar da dor provocada a cada morte, professores e funcionários preferem se focar no número de jovens que conseguiram evitar que fossem cooptados pelo tráfico.
"Muitos meninos só têm a gente e só não caíram para o lado de lá [tráfico] por causa da educação integral." Especialistas concordam com o peso da educação na segurança pública. O sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da UFPR, diz haver uma série de pesquisas que relacionam a redução dos índices de violência a colégios que oferecem atividades no contraturno.
Responsável por investigar assassinatos na região da Vila Torres, o delegado Wagner Holtz também vê o ensino integral como um aliado contra a criminalidade. "A educação de qualidade ajudaria a resolver 80% dos problemas do bairro."
"Aqui, a gente adota esses meninos. Se não o fizermos, o tráfico o faz". A frase de Wilson João Alves, diretor do Colégio Estadual Manoel Ribas, situado na Vila Torres, em Curitiba, dá o tom da importância que a escola tem para a comunidade historicamente espremida pela disputa de duas facções criminosas. A unidade, no entanto, foi a primeira a oficializar que não tem condições de iniciar as aulas na segunda-feira, conforme o calendário oficial da Secretaria de Estado da Educação (Seed). O colégio sofreu um corte severo no número de funcionários e pedagogos, o que, segundo a direção, impossibilita a volta às aulas.
As demissões chegaram ao colégio no início desta semana. Afetados pelo corte deflagrado pela Seed, dez funcionários contratados via Processo Seletivo Simplificado (PSS) foram mandados embora: três merendeiras, dois inspetores de alunos e cinco servidores que faziam a limpeza da escola. O número de pedagogos também foi cortado, de sete para três. Até o diretor auxiliar foi desligado. Só uma servidora da limpeza (que é efetiva) permanece na escola.
Em um meio em que diretores evitam se expor por temer represálias, Wilson Alves dá a cara a tapa. Encaminhou um ofício ao Núcleo Regional de Educação detalhando o impacto que as demissões provocaram no colégio e dando um ultimato: se não houver novas contratações, a escola vai retardar o início do ano letivo. "É um ato de desespero, porque da maneira que ficou simplesmente não temos condições de atender os alunos."
Segundo ele, será impossível manter a volta às aulas na segunda-feira. "Mesmo que contratem amanhã, não dá tempo. Não tem tempo hábil. Não tenho nem quem faça a merenda dos alunos."
Importância
O Manoel Ribas passou a oferecer educação em tempo integral em 2009, depois de passar por uma intervenção do governo do estado. À época, a escola estava desacreditada, em meio à violência do entorno. Foi a educação integral que começou a revolucionar a unidade. Em dois anos, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) avançou 28%. Hoje, a escola é um lugar de esperança à vulnerabilidade da comunidade.
"Muitos de nossos alunos vêm de famílias desestruturadas. São filhos do tráfico, do crack. E nós estamos conseguindo mudar essa realidade. É isso que não podemos deixar que se perca", diz Wilson.
No ano passado, o colégio recebeu mais de 180 alunos na educação integral. Eram jovens com idades entre 10 e 16 anos, que chegavam à escola às 8 da manhã e iam embora no fim da tarde. A unidade oferecia quatro refeições. A grade escolar contemplava 17 disciplinas. Além das tradicionais, há música, teatro, dança, esportes e robótica. O Manoel Ribas atendeu, ainda, a 130 alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e 50 alunos do ensino médio normal.
Greve à vista
Nesta semana, a Gazeta do Povo mostrou que o início do ano letivo na rede estadual está ameaçado. Além do corte de funcionários, há indefinição sobre professores temporários. Estes, só serão destacados às escolas a partir de hoje. No sábado, a APP-Sindicato realiza assembleia em Guarapuava para decidir se deflagra greve. "Não temos condições de iniciar o ano letivo. Temos uma posição por entrar em greve, mas isso só será referendado na assembleia", diz a secretária de finanças da APP-Sindicato, Marlei Fernandes. No início da semana, o sindicato deve se unir a outras categorias em protestos contra o novo "pacotaço" do governo. A Secretaria de Estado da Educação informou que começa a remanejar hoje profissionais da rede estadual. A intenção é atender as necessidades de cada escola.
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