De uma modesta foto no Facebook para a pressão por leis no Congresso Nacional, a rapidez com que a voz da jornalista Nana Queiroz ecoou pelo Brasil nos últimos dias evidenciou não apenas a urgência, mas a demanda de seu apelo. A foto publicada na última sexta-feira, em que ela aparece nua da cintura para cima e com a frase "Eu não mereço ser estuprada" escrita nos braços, era uma resposta a um porcentual alarmante divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) na semana passada: o de que 65% dos brasileiros concordam que uma mulher que usa roupa curta merece ser atacada. O gesto ganhou seguidoras e seguidores repudiando o resultado da pesquisa. A foto logo se tornou uma campanha e uma página no Facebook, e muitas mulheres se sentiram encorajadas a contar casos pessoais de abuso que sofreram, demonstrando que o dado representa não só uma mentalidade específica do brasileiro, mas também centenas de histórias traumáticas.
Quase uma semana depois, o movimento, que contava com 33 mil seguidores até o fechamento desta edição, começa a ganhar corpo fora da internet. E isso não se restringe apenas às manifestações anunciadas em apoio à causa. "Estamos lutando para que o Congresso aprove uma alteração no Plano Nacional de Educação que inclua as discussões sobre gênero nas escolas públicas, e também para aprovar leis que protejam mulheres de crimes virtuais, como a pornografia de vingança [disseminação de fotos íntimas da mulher por um ex-namorado, por exemplo]", diz Nana.
Ela se reuniu com o deputado federal Jean Willys (Psol-RJ) para conseguir apoio parlamentar à causa, e espera que as palavras de incentivo da presidente Dilma em sua conta do Twitter se traduzam em ações concretas. Em seu microblog, a presidente escreveu: "A jornalista Nana Queiroz se indignou com os dados da pesquisa do Ipea sobre o machismo na nossa sociedade. Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência contra a mulher, ela foi ameaçada de estupro. Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade e respeito".
As ameaças a que a presidente se refere viraram uma constante na vida da jornalista desde que iniciou a campanha, e não foram as únicas. "Tentaram me desqualificar e desqualificar o resultado da pesquisa. Já falaram até que eu tinha sido contratada pelo Ipea para divulgar a pesquisa e que estava de conchavo com a Dilma", conta. Sobre a insistência das ameaças, a jornalista disse que não as lê mais. "Não sei mais se estou sendo ameaçada."
Manifestações
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