Protesto
Ato reúne grupo contra abusos no metrô de SP
Agência Estado
Vinte pessoas fizeram um "rolezinho", no fim da tarde de ontem na Estação da Sé do metrô contra os "encoxadores" que atuam no sistema. Elas também defenderam a campanha "eu não mereço ser estuprada".
Com um microfone na mão, a organizadora do evento e integrante do Levante Popular da Juventude Laryssa Sampaio explicou o objetivo do ato: "Vagão exclusivo não nos representa. Nós queremos medidas do metrô para prevenir as encoxadas. Mas, em vez de fazer isso, o metrô contribui para esses atos ao dizer que trem é local de paquera. Não é", afirmou, fazendo referência a uma propaganda na Rádio Transamérica em que o locutor afirmava que metrô paulistano era bom para "xavecar as mulheres".
Do movimento Fora do Eixo, Gabriel Ruiz, de 29 anos, participou do protesto por achar que homens precisam se engajar nessa luta. "Não concordo com o machismo que é praticado não só no metrô, mas no dia a dia das mulheres", defendeu.
De uma modesta foto no Facebook para a pressão por leis no Congresso Nacional, a rapidez com que a voz da jornalista Nana Queiroz ecoou pelo Brasil nos últimos dias evidenciou não apenas a urgência, mas a demanda de seu apelo. A foto publicada na última sexta-feira, em que ela aparece nua da cintura para cima e com a frase "Eu não mereço ser estuprada" escrita nos braços, era uma resposta a um porcentual alarmante divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) na semana passada: o de que 65% dos brasileiros concordam que uma mulher que usa roupa curta merece ser atacada. O gesto ganhou seguidoras e seguidores repudiando o resultado da pesquisa. A foto logo se tornou uma campanha e uma página no Facebook, e muitas mulheres se sentiram encorajadas a contar casos pessoais de abuso que sofreram, demonstrando que o dado representa não só uma mentalidade específica do brasileiro, mas também centenas de histórias traumáticas.
Quase uma semana depois, o movimento, que contava com 33 mil seguidores até o fechamento desta edição, começa a ganhar corpo fora da internet. E isso não se restringe apenas às manifestações anunciadas em apoio à causa. "Estamos lutando para que o Congresso aprove uma alteração no Plano Nacional de Educação que inclua as discussões sobre gênero nas escolas públicas, e também para aprovar leis que protejam mulheres de crimes virtuais, como a pornografia de vingança [disseminação de fotos íntimas da mulher por um ex-namorado, por exemplo]", diz Nana.
Ela se reuniu com o deputado federal Jean Willys (Psol-RJ) para conseguir apoio parlamentar à causa, e espera que as palavras de incentivo da presidente Dilma em sua conta do Twitter se traduzam em ações concretas. Em seu microblog, a presidente escreveu: "A jornalista Nana Queiroz se indignou com os dados da pesquisa do Ipea sobre o machismo na nossa sociedade. Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência contra a mulher, ela foi ameaçada de estupro. Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade e respeito".
As ameaças a que a presidente se refere viraram uma constante na vida da jornalista desde que iniciou a campanha, e não foram as únicas. "Tentaram me desqualificar e desqualificar o resultado da pesquisa. Já falaram até que eu tinha sido contratada pelo Ipea para divulgar a pesquisa e que estava de conchavo com a Dilma", conta. Sobre a insistência das ameaças, a jornalista disse que não as lê mais. "Não sei mais se estou sendo ameaçada."
Manifestações
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