Todo mundo já precisou levar algum produto para o conserto: aquele calçado antigo que precisa de uma reforma, eletrodomésticos e eletroeletrônicos que pararam de funcionar, uma roupa danificada ou que não serve mais. Para esses casos, existem as assistências técnicas ou profissionais especializados, como sapateiros e costureiras. Essas situações são corriqueiras, porém podem virar um problema quando os clientes levam o produto mas não vão buscá-lo. As desculpas são várias: faltou dinheiro, o resultado não ficou bom ou ainda porque simplesmente esqueceram.
Na sapataria de Bruno Birk, em Curitiba, há mais de 200 pares de sapatos esquecidos, somente no ano passado. A cada carnaval ele faz uma triagem, doa alguns pares e outros coloca à venda para tentar recuperar o prejuízo. Mesmo atendendo em uma loja de apenas uma porta, são quase cem clientes por dia. Birk tem 82 anos, 40 deles só consertando sapatos.
Comparando o tempo de serviço e a quantidade de produtos que entram diariamente na sapataria, duas centenas de pares de sapatos esquecidos até não parecem tanto. Mas, mesmo assim, ocupam quase metade da loja e representam um furo na contabilidade. Há iniciativas para inibir o "calote": cliente que paga adiantado tem 10% de desconto, o que não tem surtido tanto efeito. Por isso, Birk e os três netos que trabalham na sapataria decidiram que, a partir deste ano, o conserto de sapatos só será feito com parte do pagamento adiantado. "Antigamente não era assim. Ninguém tinha tantos calçados. Era um ou outro que acabavam esquecendo", lamenta Birk.
Outro campeão na lista dos esquecidos é o celular. Os clientes mandam consertar e, se fica muito caro ou não vale a pena, não voltam mais para buscar. Ana Simonato, gerente de uma loja que arruma aparelhos telefônicos, diz que já houve casos de clientes que retornaram após um ano. Para evitar confusão, a gerente devolveu o celular. Em outro caso, Ana avisou antecipadamente que o conserto sairia caro e que o cliente poderia comprar outro aparelho novo pelo mesmo preço. "Mas ele insistiu, disse que tinha valor sentimental. Arrumamos, a pessoa não quis pagar e ainda comprou um celular na loja ao lado."
Outro lado
A veterinária Lizianne Shmeil faz parte do grupo de pessoas que sempre esquece objetos no conserto. A correria do dia a dia fez com que ela deixasse uma correntinha de ouro em uma joalheria para ajustar e um anel para diminuir. A corrente está na loja há um ano, o anel há dois meses. A justificativa é mesmo a falta de tempo, mas a promessa para este ano é buscar os pertences esquecidos.
A enfermeira Maria José Bianco também já esqueceu diversos produtos mandados para o conserto. Três calças foram levadas para virarem saias. Uma calça ela retornou para buscar, mas as outras duas ficaram na costureira, que fechou as portas. Depois de alguns meses, quando lembrou, ela voltou à loja e não encontrou mais nada. Outro produto esquecido foi um som, mas desta vez o motivo não foi a correria e sim a falta de dinheiro. Depois de insistentes ligações dos vendedores da loja, Maria conseguiu pagar o conserto. Mas o marido dela também deixou outro aparelho e ainda não foi buscar.