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“Não é não”. Mais do que uma aula de semântica, a frase escolhida para estampar banheiros e paredes dos bares de Curitiba tem um motivo nobre: combater o assédio às mulheres que frequentam os estabelecimentos noturnos. São duas frentes: uma pedagógica e outra de treinamento da equipe. Quem assina é a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas do Paraná (Abrabar-PR).

Cartazes com a frase estampam as paredes de 11 casas noturnas de Curitiba há cerca de um mês e meio. Casas do interior do Paraná começaram a aderir. Bares de Salvador vão importar a ideia para o período de Carnaval, em 2016.

“As vezes o homem vê a campanha e ele nem sabia que é um crime, pensa que pode fazer [o assedio], que ‘não dá nada’. Vendo a campanha ele fica mais atento e pensa ‘poxa, eu posso incomodar alguém e ainda ser preso’. Acaba mexendo com o brio de quem está acostumado a isso”, argumenta o empresário Glaucio Monjolo. Foi em seu bar, o Bossa Nova, que a campanha começou.

A prevenção também inclui um tratamento de brigada. Não só os seguranças, mas todos os funcionários devem saber como agir em uma situação destas. Uma delas é identificar que há um perfil do assediador, “geralmente é aquela pessoa que bebeu um pouco mais”, diz Monjolo.

A segunda medida é o diálogo. Orientar o cliente para que respeite. E deixar claro para a mulher que ela pode ser acolhida pelo staff, caso queira.

Em casos mais graves, a vítima é orientada para tomar as medidas cabíveis. A Polícia Militar (PM) pode ser acionada. Um boletim de ocorrência pode ser aberto no próprio bar, pela internet. Ou a cliente pode ser encaminhada a uma delegacia da mulher. Testemunhas podem ser reunidas no próprio local do ocorrido. Outra opção é ligar para o 180, disque denúncia da Secretaria de Políticas para as Mulheres nacional.

Origem

Esta não é a primeira campanha que apela para os homens respeitarem o “não” alheio. Durante a Copa do Mundo de futebol, em 2014, a Prefeitura de Curitiba lançou cartazes com os dizeres “não quer dizer não” em cinco idiomas: português, espanhol, inglês, russo e alemão.

Antes disso, em 2008, a ONU Mulheres - entidade das Nações Unidas - já havia lançado o “Say NO” (”Diga NÃO”). O objetivo era combater a violência contra mulheres, conscientizando indivíduos e governos, para que criassem legislações de proteção. A atriz Nicole Kidman foi a porta-voz do movimento e gravou um vídeo com o apelo de que “não é não em qualquer idioma”.

A versão da Abrabar surgiu após a denúncia de uma frequentadora. Após sofrer com assédio, ela procurou o Bossa Nova Bar pelo Facebook. Ao pensar em uma possível reação, o dono do estabelecimento percebeu que aquela não era uma situação isolada, e assim surgiu a ideia de fazer um projeto educativo.

Números

A percepção dos empresários coincide com a dos próprios jovens, segundo pesquisa feita pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular, em 2014. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 80% considera incorreto que mulheres fiquem bêbadas em bares, festas ou baladas.

Além disso, 78% das mulheres dizem já ter passado por algum tipo de assédio e um quarto delas já passou por uma situação destas na balada. Entre os homens, 27% acha que não é violência física abusar de uma mulher que tenha bebido demais.

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