O diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, aconselhou, na quinta-feira (12), mulheres de Pernambuco a adiarem os planos de gravidez até que haja maior clareza sobre as causas do aumento de casos de bebês com microcefalia no Estado. “Não engravidem agora. Esse é o conselho mais sóbrio que pode ser dado”, disse ele.
Até o momento, foram identificados 141 casos da malformação no estado, a maior parte dos casos concentrada a partir de agosto em 55 cidades. O indicador é 15 vezes superior à média registrada entre 2010 e 2014, de 9 casos por ano. Diante do problema, considerado grave, o Ministério da Saúde decretou na quarta-feira (11) estado de emergência sanitária nacional.
Além de Pernambuco, outros estados começam a relatar aumento expressivo de casos. O superintendente da Maternidade Nossa Senhora de Lurdes, de Aracaju, informou que 49 casos foram identificados no Estado nos meses de setembro e outubro. O problema foi identificado na capital e em outras três cidades: Itabaiana, Estância e Lagarto. No Rio Grande do Norte, de acordo com informações da Secretaria de Saúde ao Instituto de Medicina Tropical, foram 22 casos. A maioria dos casos, também registrada a partir de agosto.
“Nesse momento, não temos como afirmar se o aumento tem como causa algum vírus transmitido por vetores ou algum outro fator”, disse Maierovitch. Ele avalia, no entanto, que dentro de um curto espaço de tempo, com o caminhar das investigações, haverá condições para se ter pistas mais claras sobre as causas do problema.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco e um dos primeiros profissionais a identificar o avanço dos nascimentos de microcefalia no Estado, Carlos Brito tem a mesma avaliação de Maierovitch e sugere que mulheres adiem em alguns meses os planos de gravidez em Pernambuco, onde a situação é mais grave. “É mais prudente esperar alguns meses. Somente para se ter mais segurança sobre o que de fato está ocorrendo”, disse.
Para gestantes, Maierovitch avalia ser preciso a adoção dos cuidados básicos: não usar medicamentos sem conhecimento do médico e evitar a exposição a mosquitos. “Em casa, ficar de portas fechadas, colocar telas nas janelas e usar repelentes”, disse. O uso de mosquiteiros, um recurso bastante usado para evitar malária, não é considerado eficaz nestes casos.
No Rio Grande do Norte, o indicador de crianças nascidas com microcefalia é 11 vezes maior do que o registrado em 2012. Os nascimentos ocorreram em Natal, Mossoró, Macaíba e Currais Novos. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte está organizando uma rede de referência para assistência a esses bebês. “Eles necessitam de uma atenção especializada. São pouquíssimos os profissionais com treinamento no momento para cuidar dessas crianças”, afirmou o professor do Instituto de Medicina Tropical do Rio Grande do Norte, Kleber Luz.
De acordo com ele, testes feitos até agora nos bebês e mães não identificaram a ocorrência de infecções que geralmente levam a esse tipo de malformação: toxoplasmose, citomegalovírus, herpes e sífilis.
Cerca de 80% das mães relataram ter apresentado, nos primeiros meses de gestação manchas, febres e coceiras - sintomas associados a zika. “Estamos avaliando todas as hipóteses. Vamos repetir exames e continuar buscando respostas”, disse. Luz informou que há quatro anos o Estado teve um surto de toxoplasmose, mas que não foi seguido do aumento de casos de microcefalia.
A malformação, que pode levar a criança ao retardo mental, convulsões, problemas de audição, visão e motor, é considerada um evento raro na pediatria. No Rio Grande do Norte, foram registrados 2 casos em 2012 e 2 em 2013. Em 2014, não houve nascimento de crianças com problema. “Dos 22 registrados até agora, a maioria ocorreu depois de agosto. É um crescimento muito expressivo.” O professor relata que até o momento foi registrado uma morte de bebê, ocorrida logo após o nascimento.
O aumento de número de casos de microcefalia no Rio Grande do Norte vem sendo investigado por pesquisadores há pelo menos um mês. Até esta quarta, no entanto, não haviam sido fornecidos números oficiais sobre as ocorrências. Em Sergipe, o perfil se repete: testes feitos em mães e bebês com malformação não identificaram até o momento infecções por toxoplasmose, herpes ou citomegalovírus. A maioria das mulheres relatou ter apresentado manchas e coceiras.
A exemplo de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe enfrentaram no início do ano uma epidemia de zika, um vírus transmitido pelo mesmo mosquito da dengue, o Aedes aegypti. A doença, confirmada no Brasil este ano, provoca nos adultos reações consideradas leves: coceira, vermelhidão e febre baixa. Por se tratar de uma doença nova, não há um exame de diagnóstico específico.
O diretor geral de controle de doenças e agravos de Pernambuco, George Dimech, afirmou que a secretaria esta semana já foi procurada por secretarias dos Estados do Piauí, Paraíba e Maranhão, em busca de informações sobre o protocolo lançado pelo Estado para diagnóstico da microcefalia. Há pouco, a secretária executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque, afirmou que o Ministério da Saúde estuda enviar um reforço a profissionais para o Estado, para auxiliar na investigação. Estão em Pernambuco no momento dois técnicos do ministério.
A Secretaria de Saúde do Maranhão, por meio de assessoria de imprensa, informou que casos suspeitos estão em investigação, mas não há confirmação de que são de fato crianças com microcefalia. Oficialmente, o Estado contabiliza 1 caso da doença este ano, número abaixo do registrado em 2012, quando 4 casos foram confirmados.
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