O déficit de delegados, investigadores e escrivães comprometeu de forma severa a principal atividade fim da Polícia Civil: a investigação. Destacados para atender mais de uma cidade e sem equipe para se revezar nas escalas, delegados admitem que não conseguem investigar os crimes.
“A situação é de impotência, porque, muitas vezes temos uma informação inicial [sobre um crime], mas não conseguimos investigar, porque não tem efetivo”, apontou um delegado da região Oeste. “Se acontece um homicídio, não tem perícia, porque a perícia não chega até aqui. A investigação é ‘meia-boca’. Só se descobre o autor se tiver testemunha, se alguém viu”, disse outro delegado dos Campos Gerais.
Com isso, se acumulam pilhas de inquéritos nas delegacias. Um delegado do Norte Pioneiro do estado aponta que em uma das unidades pelas quais é responsável já soma mais de 600 inquéritos em aberto. “É um eterno enxugar gelo”, definiu.
Como se não bastasse a falta de policiais, as cidades do interior se veem às voltas com outro problema: a manutenção de presos em delegacias. Com isso, policiais civis – que deveriam se dedicar à investigação – se ocupam quase que exclusivamente da custódia dos detentos.
“Os investigadores não podem sair da delegacia, porque têm de cuidar dos presos. Se eu colocá-los para investigar nas ruas, eu faço o quê? Tranco a delegacia com os presos, sem ninguém na guarda?”, questionou o delegado da região Norte.
Para o Sindicato das Classes Policiais (Sinclapol), este é um dos principais problemas. “Os investigadores vivem em desvio de função, que deveria ser denunciado. É culpa do delegado? É culpa do escrivão? Não. A culpa é da estrutura”, disse o presidente, André Gutierrez. (FA)