A partir do levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que revelou na última semana que 65% dos brasileiros acham que mulheres com pouca roupa merecem ser atacadas, entre outras afirmações polêmicas, a antropóloga Mirian Goldenberg, pesquisadora do universo feminino há 25 anos, acha que o comportamento submisso das mulheres as torna cúmplices da violência de que são vítimas. Para ela, um dos pontos mais graves revelados na pesquisa é que até o público feminino endossa as posturas de submissão. "Não somos nada Leila Diniz. Quem dera se fôssemos", dispara ela. A metodologia do estudo diz que 66,5% dos mais de 3,8 mil entrevistados ouvidos pelo Ipea eram do sexo feminino.
Como avalia a pesquisa do Ipea?
Ela expôs aquele discurso das pessoas de que eu não sou machista. O Ipea conseguiu, com as [25] perguntas, revelar o que é indizível. E a realidade é muito pior do que o que foi dito. A mulher é culpada por ser mulher. Ninguém diz o tamanho da saia ou do decote. Diz apenas que ela é a responsável. O problema não é o que você veste, mas o fato de ser mulher. Fiz uma pesquisa tratando da posição da mulher no relacionamento. O que ouvi [de ambos os sexos] foi "as mulheres estão desesperadas", atacando, passando a mão. Foi assustador. Pesquiso há 25 anos esse tema e digo: não vejo mulheres atacando ninguém. Noventa e nove por cento delas ficam em casa esperando o cara ligar. Só que as pessoas falam desse 1% que é agente em sua sexualidade e em seu corpo. São elas que acabam virando algo negativo. E eu sempre digo: não somos nada Leila Diniz. Quem dera se fôssemos.
Muitas das mulheres que entraram para a História tinham atitudes de desafio.
Quanto mais mulheres fizerem essas revoluções, públicas ou privadas, mais mulheres serão livres. Quanto mais mulheres não admitirem que um homem ou outra mulher controlem sua sexualidade, ou sua roupa, mais exemplos de libertação teremos. As mulheres têm inveja da liberdade do homem. Quando você inveja a liberdade, você não é livre. Mas não precisa ser Leila Diniz. Podem ser pequenos gestos. Mas conheço poucas mulheres que têm isso. Nem eu mesma tenho. Com 57 anos, vou sair com uma saia mais curta? Vão me chamar de velha ridícula.
E temos saída?
Claro que sim. Muitas pessoas, depois que me ouvem falar disso, se sentem livres. Você vê que aquilo está ali, que é só dar um empurrãozinho. Mas há mudanças, sim. As mulheres já se casam menos, ficam solteiras, têm filhos mais tarde, ou mesmo não têm filhos, têm mais parceiros. Mas é claro que a miséria subjetiva ainda existe. É aquela história: ai, meu Deus, o que vão dizer de mim.
Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher?
As mulheres alimentam a violência contra elas mesmas quando aceitam esse tipo de provérbio. As mulheres também são cúmplices da violência contra todas as mulheres, quando aceitam que o parceiro a xingue ou a desrespeite. Uma minoria das minorias emerge, mas todas continuam levando porrada.
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