A gente vai continuar no nosso conceito de individualizar o morador de rua, entender porque ele está ali e tentar fazer com que ele saia dessa situação.
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rimeira-dama e presidente da Fundação de Assistência Social (FAS) na gestão de Gustavo Fruet (PDT), a jornalista Marcia Fruet afirma que não vai mudar a política de moradores de rua para atender a apelos “higienistas”, nem que isso custe a reeleição do marido em outubro. A declaração vem depois de um pedido da Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) para que os moradores fossem retirados das calçadas à força. Veja a entrevista.
Quantos moradores de rua há hoje em Curitiba?
O último censo, de 2008, contou 2.776. Nós temos mil vagas em abrigos hoje, nem todas são preenchidas. Temos de mil a 1,2 mil moradores de rua. O que incomoda as pessoas é que agora eles têm os colchões, então ficam ali durante o dia. Hoje eles têm mais condições de permanecer na rua, e isso é péssimo. Veja, ninguém quer que as pessoas permaneçam na rua. A Abrabar quer que a gente retire a força, a ACP quer que a gente dê trabalho. Nós não queremos que eles continuem por uma questão de dignidade, de cidadania. O que menos mata na rua é o frio, o que mais mata é a intolerância, é a violência. Nós conversamos todos os dias para que não doem coisas nas ruas.
Nesse sentido, a visão de vocês é parecida com as das gestões anteriores, que pediam para evitar esmolas?
Não dá para dar esmola na rua. Hoje há poucos adultos e crianças esmolando. Agora eu fico muito tranquila em dizer que a esmola hoje vai para droga. Temos toda uma estrutura que trabalha no atendimento dessas pessoas. Elas não precisam esmolar. Hoje tem restaurante popular a R$ 2. Se quiser a gente dá o ticket do restaurante popular. Mas o que a gente fala é para não doar coisas na rua, para que elas não se enraízem, para que não fiquem, entre aspas, confortáveis na rua.
Isso não é contraditório com a intenção da prefeitura de criar um guarda-volumes no Guadalupe?
Não, morador de rua tem direito a ter pertences. A gente não pode cercear esse direito. Também não podemos cercear o direito do comerciante de dar entrada e saída aos seus fregueses, de abrir sua porta e não ter ninguém obstruindo o caminho do seu negócio.
Como a sra. defende o fechamento do maior abrigo da cidade, na Cons. Laurindo?
Se o inferno tinha uma filial era lá. Abrigava 400 pessoas. É um lugar completamente insalubre, não tinha uma saída de emergência se pegasse fogo. As pessoas preferiam dormir nos corredores porque a violência era muito grande nos quartos. Os mais novos cobravam dos mais velhos por benefícios. Aí uma vez ligaram e disseram: “encontramos um corpo debaixo de uma das camas”, quando foram ver ele estava vivo. Tinha sido espancado.
Não tinha como diminuir o número de pessoas e tentar aproveitar o espaço?
Poderia. Nunca tivemos tanta reclamação em relação à população de rua. Me parece que isso foi escolhido como tema do embate eleitoral deste ano. Eu acho uma lástima que em cima da miséria, da vulnerabilidade, se vá fazer uma campanha. Mas não vamos cair no papo higienista. A gente vai continuar no nosso conceito de individualizar o morador de rua, entender porque ele está ali e tentar fazer com que ele saia dessa situação. E se é por isso que a gente vai perder a eleição, então é por isso que a gente vai perder a eleição.
Leia a íntegra da entrevista em http://goo.gl/kE0MLe