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Marcia Fruet é primeira-dama de Curitiba e presidente da Fundação de Assistência Social (FAS). | Antônio More/Gazeta do Povo
Marcia Fruet é primeira-dama de Curitiba e presidente da Fundação de Assistência Social (FAS).| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Primeira-dama e presidente da Fundação de Assistência Social (FAS) na gestão de Gustavo Fruet (PDT), a jornalista Marcia Olescovicz Fruet afirma que não vai mudar a política de moradores de rua para atender a apelos “higienistas”, nem que isso custe a reeleição do marido em outubro.

A declaração vem depois de um pedido da Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) para que os moradores fossem retirados das calçadas à força. Marcia também defende o fechamento do maior abrigo da cidade, na Conselheiro Laurindo, dizendo que era uma “filial do inferno”.

Veja os principais trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo.

Quantos moradores de rua há hoje em Curitiba?

O último censo, de 2008, contou 2.776 moradores de rua. Nós temos mil vagas em abrigos hoje, nem todas são preenchidas. Temos de mil a 1,2 mil moradores de rua. O que incomoda as pessoas é que agora eles têm os colchões, então ficam ali durante o dia. Hoje eles têm mais condições de permanecer na rua, e isso é péssimo. Curitiba, apesar de extremamente crítica com relação aos moradores de rua, também é muito solidária. Temos fotos de colchões que são colocados na rua enroladinhos. Veja, ninguém quer que as pessoas permaneçam na rua. A Abrabar quer que a gente retire à força, a ACP quer que a gente dê trabalho. Nós não queremos que eles continuem por uma questão de dignidade, de cidadania. O que menos mata na rua é o frio, o que mais mata é a intolerância, é a violência. Nós conversamos todos os dias para que não doem coisas nas ruas.

Nesse sentido, a visão de vocês é parecida com as das gestões anteriores, que pediam para evitar esmolas?

Não dá para dar esmola na rua. Hoje há poucos adultos e crianças esmolando. Agora eu fico muito tranquila em dizer que a esmola hoje vai para droga. Temos toda uma estrutura, não só da assistência social, não só da saúde, mas também de entidades que trabalham no atendimento dessas pessoas. A pessoa não precisa esmolar na rua. Hoje tem restaurante popular a R$ 2. Se quiser a gente dá o ticket do restaurante popular. Mas o que a gente fala é para não doar coisas na rua, para que elas não se enraízem, para que não fiquem, entre aspas, confortáveis na rua.

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Isso não é contraditório com a intenção da prefeitura de criar um guarda-volumes no Guadalupe?

Não, morador de rua tem direito a ter pertences. A gente não pode cercear esse direito. Também não podemos cercear o direito do comerciante de dar entrada e saída aos seus fregueses, de abrir sua porta e não ter ninguém obstruindo o caminho do seu negócio. O que se pode fazer? Jogar fora? Arrancar? Tirar à força? Não, dar uma opção para que ele guarde seus pertences.

Quando vai ser feito um novo censo da população de rua?

Neste ano. Mas a lógica do censo é conhecer todos os perfis das pessoas que estão em situação de rua em Curitiba e em todas as outras cidades. Nós temos esse conhecimento – o que precisamos é de um instrumento que legitime isso, que a gente possa usar como referência para outras políticas etc.

Uma das reclamações é que os moradores de rua usam espaços públicos como se fossem banheiros.

Franqueamos a entrada de 100 moradores de rua nos banheiros públicos da Praça Osório. Isso nunca aconteceu, são banheiros da Urbs.

Eles vão ter uma identificação?

Vão. A gente está fazendo um cadastramento com foto, tipo sanguíneo, documentos que eles têm.

Vai ser só na Osório?

Vamos expandir para outros lugares. Os comerciantes têm toda razão. Abrir a loja e estar tudo urinado, tudo defecado na frente é muito complicado. Mas qual opção eles [moradores de rua] têm hoje? Chuveiros públicos: fizemos uma pesquisa e mais ou menos 40% da população de rua toma banho em chafariz. Outros tomam banho em posto de gasolina, dão um jeito nas torneiras. Franquear, ter um espaço que eles possam tomar um banho quente, também é resgate da dignidade. Vamos abrir neste ano também, também na Osório.

Como a sra. defende o fechamento do maior abrigo da cidade, na Conselheiro Laurindo?

Se o inferno tinha uma filial era lá. Abrigava 400 pessoas. É um lugar completamente insalubre, não tinha uma saída de emergência se pegasse fogo. As pessoas preferiam dormir nos corredores porque a violência era muito grande nos quartos. Os mais novos cobravam dos mais velhos porque eles tinham algum tipo de benefício. Aí uma vez ligaram e disseram: “encontramos um corpo debaixo de uma das camas”, quando foram ver o senhor estava vivo. Tinha sido espancado.

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Não tinha como diminuir o número de pessoas e tentar aproveitar o espaço?

Poderia. A gente pagava nesse espaço R$ 36 mil por mês. Ia para R$ 45 mil. Nunca tivemos tanta reclamação em relação à população de rua. Me parece que a população de rua foi escolhida como tema do embate eleitoral deste ano. Eu acho uma lástima que em cima da miséria, da vulnerabilidade, se vá fazer uma campanha política. Mas não vamos cair no papo higienista. Não vamos. A gente vai continuar no nosso conceito de individualizar o morador de rua, entender porque ele está ali e tentar fazer com que ele saia dessa situação. A gente não vai tomar atitudes higienistas. E podem bater. E se é por isso que a gente vai perder a eleição, então é por isso que a gente vai perder a eleição. Nós fechamos o resgate na Conselheiro, mas nós abrimos um albergue na Getulio Vargas, a poucas quadras dali. Abrimos uma casa de mulheres LBT que fica na Westphalen, abrimos na Rockfeller e na Plínio Tourinho. Abrimos no Boqueirão, ainda em 2013. Nós abrimos o Condomínio Social que fica no Mossunguê. E agora vamos abrir um Condomínio social para mulheres.

O que a sra. pensa da internação compulsória para dependentes químicos?

Existe e a gente já fez algumas intervenções involuntárias. Temos, por exemplo, aquele cidadão que dormia embaixo do Bondinho da XV. Aquele foi uma intervenção involuntária. Ele tinha um transtorno muito sério. Mas só usamos muito pontualmente e depois de um estudo de caso muito aprofundado.

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Critica-se muito a atual gestão da prefeitura por indecisão, por avanços tímidos. Como a sra. responde a isso?

O Gustavo [Fruet] pegou uma prefeitura completamente quebrada. Eu sempre digo que é uma pena. A gente teria avançado sem dúvida nenhuma. A crítica tem fundamento talvez se for pensar na velocidade do avanço, mas nós pegamos a pior crise dos últimos 30, 40 anos. Não tem como trabalhar dessa maneira. Agora o que eu posso dizer na área de ação de social é que a gente avançou muito. Eu acho que cada vez mais as eleições estão sendo brutalizadas e a utilização da miséria como embate eleitoral é de embrulhar o estômago. Agora, não faço o que fizeram as antecessoras, de ir para a periferia e tirar o sapato pra andar na lama descalça, pegar uma criança no colo e depois deixar ela lá. Isso eu não faço. Pode ser um erro político? Pode. Eu vou sim para a comunidade, mas não tenho fotógrafo, não tenho staff. Vou sozinha.

A senhora pessoalmente tem pretensões políticas futuramente?

Não. Me disseram que uma vez que você entra na assistência social uma vez a gente não consegue mais sair. Mas eu trabalhei a vida inteira como assessora de imprensa, sempre cavei meu espaço, vim do Bairro Alto, eu falo que é meu município, e minha família continua lá. Minhas irmãs não têm emprego no governo, parente nenhum têm emprego no governo, sempre cavei meu espaço e vou continuar fazendo isso.

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