Em meio à multidão que passa todas as quartas-feiras na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Curitiba, Monik Pegorari de Lima chama a atenção de todos em volta. Algumas senhoras param diante da jovem, perguntam se é mesmo ela e, após a confirmação, a beijam, abençoando-a e desejando boa sorte. Monik virou celebridade, às avessas, é verdade, de uma tragédia que marcou a história do litoral paranaense. Nesta última semana, coincidentemente, depois de Monik ter conversado com a reportagem para contar como está a sua recuperação, o crime do Morro do Boi teve um novo desfecho.
O irmão de Juarez Ferreira Pinto (condenado pelo crime), o policial civil Altair Ferreira Pinto (conhecido como Taíco), foi preso junto com outros quatro policiais e mais o delegado de Matinhos, José Tadeu Bello. Todos são acusados de fraude processual com o objetivo de tentar incriminar o vigilante Paulo Unfried no lugar de Juarez.
A prisão de Taíco trouxe uma sensação de alívio às vítimas do crime do Morro do Boi. A mãe de Osiris Del Corso, namorado de Monik morto no crime, afirmou que a investigação agora está completa e que quem tinha dúvidas sobre a acusação contra Juarez agora não terá mais. Monik também ficou satisfeita, até porque nos últimos dias se sentia perseguida, mesmo morando no Nordeste. "Ainda não sabemos quem era e o que queria, mas o carro [com placa de Curitiba] passou mais umas três vezes por aqui. Tudo foi filmado. Não sei se tinha relação com o Taíco", diz.
Atingida por uma bala na coluna por Juarez, estar presa a uma cadeira de rodas é o que mais incomoda Monik. Numa conversa rápida durante o intervalo da novena da última quarta-feira, em Curitiba, a jovem contou que não perdeu as esperanças e que nunca vai desistir do tratamento. "Muitos [cadeirantes] desistem. Eu não vou desistir. Quando andar, vou mostrar aos outros o que eles devem fazer", comenta. Monik enfrenta uma rotina pesada de fisioterapia são sete horas por dia e já vê avanços. Confira trechos da entrevista:
O que mais te marcou depois do crime?
Todos os médicos dizendo: "Se conforma, você não vai mais andar".
E como você reage a isso?
Faço fisioterapia durante sete horas por dia. Estou fazendo os tratamentos mais modernos. Vou voltar a andar.
Você está afastada de Curitiba por quê?
Estou fazendo meu tratamento no Nordeste, que é mais quente e isso ajuda na recuperação. E também porque tem gente me perseguindo. Um carro com placa clonada de Curitiba está rondando o condomínio onde moro. Já passamos o caso para a polícia.
Como foi receber a notícia de que o Taíco está preso? *
Na época foi difícil lutar contra tudo e contra todos para colocar o criminoso na cadeia. Foi o Juarez, não tenho dúvidas. Mas achei estranho o Paulo Unfried ter assumido a autoria do crime. Foi difícil, porque as pessoas passaram a acreditar que eu havia posto um inocente na cadeia.
Você pretende voltar a morar em Curitiba?
Assim que eu voltar a andar, volto para cá. Adoro Curitiba e tive de me afastar daqui depois de tudo o que aconteceu e tem acontecido.
Você ainda se lembra de todos os detalhes do crime?
Lembro tudo e tenho pesadelos.
Quando foi a última vez que você teve pesadelos?
Faz um mês. São sonhos reais, é como se eu vivesse aquilo tudo de novo. Queria esquecer, mas é impossível.
É verdade que você chegou a lutar com o homem que atirou contra vocês?
Não lutei com ele não. Foi assim: o Osiris e eu íamos jogar bola na praia com alguns conhecidos. Mas o Osiris preferiu, antes, me mostrar o pôr do sol visto do Morro do Boi. No pé do morro, estava o Juarez de cabeça abaixada. Achamos estranho, e o Osiris perguntou se ele estava bem. Respondeu que sim. Continuamos o caminho, mas logo depois o mesmo homem veio atrás de nós, com a arma na mão, e disse para continuarmos subindo. Ele nos levou até a gruta e, quando estávamos lá dentro, pediu dinheiro e depois mandou a gente tirar as bermudas. Em seguida ele mandou a gente tirar o resto da roupa. O Juarez atirou da entrada da gruta, não deu tempo de lutar ou reagir contra ele. Ele voltou à noite e fez tudo o que fez. Resisti 24 horas sangrando porque tinha tido aula de primeiros socorros [no curso de Farmácia] e soube como deveria fazer para me manter viva.
Como você se sentiu após a condenação do Juarez?
Foi um alívio saber que ao menos ele não voltaria mais atrás de mim. Durante o processo, fui quase forçada, após ameaças, a reconhecer o Paulo [Unfried] como o bandido. Arrumaram esse homem, mas eu jamais compactuaria com mentiras. Não incriminaria a pessoa errada. Ele pode ter cometido outros crimes, mas não o do Morro do Boi.
Se você pudesse olhar hoje para o Juarez, o que diria a ele?
Queria perguntar por que ele fez isso comigo e com o Osiris. Nós nos preocupamos com ele no pé do morro. Não entendo, não consigo entender por que atirar contra nós, não o conhecíamos, nunca fizemos nada contra ele. Qual é o motivo então?
E os cursos de Educação Física e Farmácia que você estava fazendo. Você pretende terminá-los?
Sim, estava no último ano. Quando concluir, vou trabalhar com Farmácia, que é o que dá dinheiro. Mas depois que eu voltar a andar, vou trabalhar com Educação Física. Adoro artes marciais. Quero abrir se tiver dinheiro um centro de treinamento de artes marciais. Lutava vale-tudo, jiu-jítsu, muay thai. Luto capoeira desde os 9 anos. E foi lutando capoeira que eu conheci o Osiris. Sinto muita falta da companhia dele.
* Pergunta feita por telefone, posteriormente.