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O sargento da Polícia Militar Dalvo Barbosa, que nasceu e trabalha em Cunha, a 231 km de São Paulo, entrou em férias na sexta-feira (1º), mas adiou seu descanso ao saber que a chuva deixou a cidade ilhada, alagou estradas, provocou deslizamentos de terra em barrancos e matou cinco pessoas soterradas na zona rural. Uma continua desaparecida e outra sobreviveu.

Como encostas bloqueiam a principal estrada que liga o centro ao bairro do Barra do Bié, onde uma casa desabou, Barbosa percorreu a pé 4 km dos 22 km que separam um ponto a outro. Junto com ele, o sargento levou uma equipe de saúde, formada por enfermeiros.

Por telefone, o policial contou neste sábado (2) ao G1 a dificuldade e a emoção de chegar ao local da tragédia. Ele é subcomandante da única base da PM em Cunha.

"Entrei de férias na sexta, mas agora voltei a trabalhar. Eu nascido e me criei em Cunha. Quando acordei, e soube do soterramento no sítio onde aquelas sete pessoas da mesma família estavam, eu não pensei em outra coisa: fui para lá na tentativa de ajudar quem sobreviveu", disse Barbosa. "Como chegar lá de carro é impossível, só tinham duas alternativas: pelo ar ou por terra. Então caminhei durante mais de seis horas para chegar lá. Saí às 9h e cheguei às 15h30."

Ao chegar ao que restou do sítio, o sargento conta que o cenário era desolador. "Só terra e lama", disse ele, que avistou uma mulher sobrevivente do deslizamento. "Ela foi salva pelos moradores da região. Isso me emocionou muito. Cerca de 50 pessoas ajudaram no resgate dela e também a retirar os corpos dos outros familiares da mulher".

Abatida

De acordo com o policial, ele preferiu não falar muito com a mulher resgatada. "Ela estava quieta, abatida. Mas como ela é enfermeira, nos orientou sobre seu estado de saúde e isso ajudou a equipe de saúde que foi ao local", disse Barbosa. "Ela me disse que todos seus parentes que estavam na casa haviam morrido e que agora deveria se preocupar com o enterro deles."

O G1 não conseguiu localizar a sobrevivente para comentar o assunto. Um helicóptero do Exército a retirou na sexta de Cunha e a levou para um hospital em Guaratinguetá, onde foi internada. "Aparentemente, ela teve fraturas nas pernas", disse Barbosa.

Caseiro

Segundo o sargento, o caseiro do sítio, sua mulher e filho, sobreviveram ao soterramento porque conseguiram sair pela porta da frente do imóvel onde estavam. "Eles moravam na parte de baixo do sobrado. A parte superior foi a mais atingida. Lá estavam as pessoas que não conseguiram se salvar", disse o policial.

Neste sábado, ele informou que vai novamente a Barra do Bié. "Vou tentar ir de jipe, mas ele também não deverá conseguir avançar muito e terei de ir a pé novamente. Meu objetivo é buscar mais informações do que ocorreu e acompanhar o resgate de mais uma vítima, que está soterrada. Sete bombeiros dormiram por lá. Estão trabalhando sem parar", disse Barbosa.

Há outras pessoas ilhadas na região rural, mas segundo Barbosa, se elas quiseram é possível deixar o local a pé. "Só não dá para sair ou entrar na área atingida com veículos."

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