Celebrada como a maior operação policial da história do Rio de Janeiro, a tomada dos territórios da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, até então dominados por facções criminosas, no início do mês, transformou as forças de segurança pública em entidade heroicas. A cena dos traficantes fugindo e dos policiais cravando uma bandeira do Brasil no alto do morro emocionou o país.
Na operação, que envolveu 2,7 mil homens das polícias Civil, Militar e Federal, e das Forças Armadas, foram apreendidas cerca de 40 toneladas de drogas, além de armas e munições, e duas prisões importantes ocorreram. Uma foi a de Sandra Helena Ferreira Maciel, a Sandra Sapatão, que era do Complexo do Borel e, segundo a polícia, ligada a Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar. Outra foi a do traficante Elizeu Felício de Souza, o Zeu, um dos condenados pelo assassinato do jornalista Tim Lopes. Pelo menos outras 20 pessoas foram presas. Um traficante e duas pessoas não identificadas morreram.
Vitória
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, comemorou o resultado da operação. "Não resolvemos todos os problemas, a caminhada é muito grande, não tem jogo ganho, não tem partida ganha, há muito o que fazer, mas já demos um passo importantíssimo", disse. Beltrame destacou o sucesso do trabalho conjunto com as Forças Armadas. "Estamos satisfeitos em participar de uma operação em que o Estado brasileiro voltou a ter autoridade sobre uma área do seu território."
Segundo os especialistas ainda é cedo para chamar os policiais da operação de heróis e a retomada, de histórica. "Há um pouco de ilusão em cravar uma bandeira como se estivesse tomando o quartel inimigo. O avanço depende da permanência do Estado, disse Ignácio Cano, sociólogo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, na ocasião.
Para o sociólogo Michel Misse, diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a operação atual não é muito diferente das outras. "Estes territórios já foram dominados várias vezes. A operação conta com um número muito maior de policiais, de militares, mas não é muito diferente das anteriores, ela não é inédita. O número de apreensões de armas e drogas é relativamente baixo. Nos últimos dois anos, no Complexo do Alemão, foram mortos em confrontos com a polícia 270 suspeitos, foram apreendidas mais de mil armas de fogo. Isso só em operações de rotina, sem invasões", explica.
Para ele, a operação atual pode significar uma virada, mas ainda é preciso esperar. "É uma operação em curso. Pode ser que ela seja uma virada histórica, mas é cedo para afirmar. A experiência nos diz que é preciso cautela", conclui.