Seis meses após a regulamentação do naturismo na Praia do Abricó, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio, frequentadores tradicionais ainda sofrem com a falta de fiscalização e com o preconceito. Sem apoio da Guarda Municipal, a Associação Naturista da Praia do Abricó (ANA) tem dificuldades em combater abusos dos novos visitantes das areias onde a nudez social é liberada. Casais tendo relações sexuais e pessoas se masturbando em público são exemplos de má conduta no local.
Os problemas se intensificaram há cerca de um ano e meio, com o aumento do número de visitantes na praia, segundo Leonardo Valentim, recém-eleito presidente da ANA. “Esses atos são considerados como atentado violento ao pudor, seja em praia de naturismo ou não. As pessoas ainda têm uma mentalidade muito atrasada com relação à nudez, associada ao erotismo, o que é totalmente diferente da filosofia naturista”, disse Valentim, que conheceu o naturismo em 2008, quando foi convidado para trabalhar na fiscalização da Praia do Abricó.
A Praia do Abricó é a única destinada à prática do naturismo na cidade, sendo frequentada desde a década de 70 por adeptos da nudez social como forma de liberdade. Localizada a cerca de 48 quilômetros do centro do Rio, dentro do Parque Municipal de Grumari, a praia fica numa área deserta, fora do alcance de visão por quem passa de carro pela Estrada da Guanabara, que dá acesso ao local.
Em vigor desde novembro de 2014, a lei nº 5.807/2014 regulamenta a prática do naturismo em Abricó, mas não torna a nudez obrigatória nos 850 metros de extensão da praia. Os fiscais da ANA, no entanto, tentam manter um trecho de 250 metros da faixa de areia como exclusiva para os naturistas. “A presença da Guarda Municipal ou da Polícia Militar ajudaria bastante. Nossa fiscalização é na base do bom senso, mas nem sempre as pessoas respeitam”, afirma Valentim.
A lei estabelece que “o Poder Público providenciará os atos necessários com vistas a manter a segurança e a ordem, inibindo abusos de qualquer natureza”. Além disso, as vias públicas de circulação de veículos, os locais de travessia de pedestres e os limites da extensão de areia da praia devem ter sinalização que identifique Abricó como local destinado aos adeptos do naturismo. Apesar da determinação, a Prefeitura instalou no dia 5 de março apenas uma placa, já na faixa de areia.
Por causa do desrespeito às regras de convivência, a ANA passou a recomendar que a Praia do Abricó só seja visitada aos finais de semana e feriados, quando há fiscalização. “Infelizmente não temos verba para fiscalização todos os dias”, lamenta Valentim. A arrecadação de recursos financeiros da ANA está comprometida, já que menos de 30% dos 850 associados estão em dia com suas contribuições, segundo o presidente.
O acesso à Praia do Abricó é livre de taxas, permitido para homens e mulheres, acompanhados ou não. O código de ética da Federal Brasileira de Naturismo (FBrN) proíbe comportamentos sexualmente ostensivos e a prática de atos de caráter sexual ou obscenos nas áreas públicas. Qualquer tipo de assédio ou propostas com conotação sexual são repudiados. Além disso, não é permitido fotografar, gravar ou filmar naturistas sem sua permissão. “Tudo que não é permitido em uma praia comum não é permitido aqui, a única exceção é que as pessoas estão sem roupa”, resume Valentim.
Procurada pela reportagem, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro informou que a Praia de Abricó “recebe fiscalização por meio de rondas, feitas em horários aleatórios pelo Grupamento de Defesa Ambiental da corporação” e que nos casos de assédio sexual e atentado ao pudor, “os agentes da GM-Rio colaboram com as autoridades policiais, encaminhando os flagrantes e pequenos delitos para as delegacias da região”.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, responsável pela sinalização na praia, não se pronunciou até a publicação da reportagem.
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