Eles são 12,85% do universo de 35 milhões de motoristas habilitados em todo o país. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), condutores com idade entre 56 e 99 anos somam 4,5 milhões de brasileiros. E o contingente desses pilotos maduros só faz aumentar: cresceu 64% nos últimos quatro anos. A qualidade de vida e o envelhecimento saudável contribuem para a presença deles no trânsito, sem que isso signifique perigo para quem divide as pistas com os vovôs e vovós. No primeiro semestre deste ano, os idosos estiveram envolvidos em 5% dos acidentes registrados no Paraná.
O mais comum, no entanto, é olhar para os motoristas mais velhos com boa dose de preconceito. Teme-se pelas reações ou falta delas em casos de emergência, pelo uso da sinalização, pela velocidade cautelosa. Na maioria das vezes, a restrição vem dos próprios filhos, preocupados com o desempenho do velho na rua. Em busca de um aval, procuram os médicos para que estes convençam os pais a largarem o volante. "A idade não traz nenhum impedimento para o indivíduo continuar dirigindo. Pode haver alguma limitação, mas eles não desaprendem", explica a médica geriatra Fabiana Weffot Caprilhone, do Hospital Milton Muricy. É preciso mais cuidado, paciência e carinho para tratar a questão. O ideal é que o próprio idoso se dê conta das limitações impostas pelas condições de saúde. Alguns medicamentos e doenças degenerativas, típicas do envelhecimento, tornam a direção mais perigosa. "Mas a negociação tem de existir. Não adianta tirar a mobilidade do cidadão e não criar alternativas para ele se locomover. A dependência é um caminho para a depressão", avalia a médica.
O museólogo João Maria Barbosa, de 85 anos, mora no bairro Cajuru, mas trabalha no Guaira, na sede social do Paraná Clube, onde cuida do museu esportivo da instituição. Tem carteira de habilitação desde 1954, mas, na maioria das vezes, opta pelo ônibus para ir trabalhar. "As ruas estão muito cheias, têm muito trânsito. Deviam até reduzir a potência dos motores dos carros novos. Nem dá para correr com tanto movimento", brinca. Hoje em dia ele dirige com menos freqüência. Em 54 anos de habilitação, só esteve envolvido em um acidente: um caminhão avançou o sinal vermelho e bateu no carro dele, em 1994. Eventualmente, Barbosa é o leva-e-traz de uma das filhas, a única dos seis que não dirige. "Não sinto diferença na minha capacidade de dirigir. A opção pelo ônibus é por causa da falta de espaço na rua."
Assim como para o jovem, o automóvel é sinônimo de independência para o idoso. A liberdade de ir e vir quando bem entender, sem depender de caronas, favores e disponibilidade de filhos e parentes é uma questão de autonomia. "Mas bom senso é fundamental. É preciso reconhecer quando há riscos para si e para os outros", opina o piloto Ingo Hoffmann, de 55 anos. Doenças que comprometem o cognitivo e a capacidade de discernimento, como Alzheimer, impedem o motorista de permanecer ao volante. Outras que atingem o desempenho motor, como artrose e mal de Parkison, são limitantes.