Na esteira da Anistia Internacional, que se manifestou sobre a onda de violência no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, Maranhão, ainda na terça-feira, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas pediu, ontem, uma "investigação imediata, imparcial e efetiva" sobre as mortes e decapitações ocorridas no presídio e divulgadas nas cenas que chegaram ao jornal Folha de S.Paulo. "Lamentamos ter que, mais uma vez, expressar preocupação com o terrível estado das prisões no Brasil e apelar às autoridades a tomar medidas imediatas para restaurar a ordem na prisão de Pedrinhas e em outras prisões do país", disse Rupert Colville, porta-voz da organização multilateral. Nem a manifestação da entidade, porém, provocou alguma reação de longo prazo do governo federal sobre o assunto sinais de tortura já tinham sido identificados em Pedrinhas e outras prisões do país em 2008, na CPI do Sistema Carcerário.
Até o momento, a assistência da União ao Maranhão se resume à presença da Força Nacional no complexo penitenciário e à oferta de 25 vagas de transferência de presos para penitenciarias federais. Ao mesmo tempo, as soluções adotadas pelo estado são consideradas paliativas pelos especialistas.
Medidas
Até agora 22 presos foram transferidos das cinco prisões do complexo de Pedrinhas para penitenciárias federais. Quem são esses presos ou mesmo o destino deles não se sabe. Ainda ontem, o Ministério da Justiça decidiu prorrogar por mais dois meses a presença da Força Nacional em São Luís. Os homens da tropa federal estão na capital maranhense desde outubro, quando uma rebelião no complexo de Pedrinhas resultou em nove mortes.
Além de ajudar nas transferências de mais presos, a tropa federal deverá auxiliar no controle de eventuais retaliações dos detentos.
Outra medida está sendo implementada pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) do Maranhão, que reforçou Pedrinhas desde o estouro da violência. O Batalhão implementou um regime de quartel, com revistas até três vezes por dia, como forma de compensar a falta de disciplina e respeito que dominou o sistema. "Se você manda o preso colocar a mão para cima, ele tem de colocar a mão para cima. Eles têm de aprender a respeitar regras de novo", diz o comandante do batalhão, Raimundo Nonato de Sá. Há um oficial de alta-patente em cada unidade. "Para qualquer situação, já tem ao menos 36 policiais do Choque de prontidão", afirma. Também há viaturas do batalhão fazendo a ronda ao redor dos presídios permanentemente.
Transferências são praxe desde 2006
Desde 2006, quando a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná, foi inaugurada, a política de transferências e tentativa de isolamentos de líderes de facções criminosas tem sido instituída como uma prática para conter rebeliões e a dominância desses grupos organizados instalados no sistema carcerário brasileiro. O governo paranaense não foge à regra. Em março de 2013, 38 presos considerados lideranças perigosas foram transferidos para os presídios de segurança máxima de Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).
Na época, Santa Catarina vivia sob fogo cerrado de criminosos que comandavam de dentro de presídios ataques a ônibus. No Paraná, houve rebeliões, ataques isolados e assassinatos de agentes penitenciários.
Na última semana do ano, em Pinhais, houve uma rebelião no Complexo Médico Penal do Paraná, encerrada após o governo estadual atender algumas reivindicações dos detentos. Segundo a própria Seju, 40 presos foram transferidos para mais perto de suas famílias.
O diretor do Depen-PR, Cezinando Paredes, é a favor dessa medida para conter problemas graves e realinhar o trabalho dentro dos presídios. "Essa movimentação ajuda a administração penitenciária".
O presidente do Sindarspen, José Roberto Neves, não concorda e acredita que as sistemáticas transferências vai levar a superlotação para as unidades federais. "Transferir sem o devido isolamento só faz a ideia das facções criminosas ser disseminada para outros estados". (DR)