Pouco benéfico, mas cheio de vitaminas
Rico em ferro, fonte de fibras, 0% de gordura... Quem nunca comparou dois produtos no supermercado e preferiu levar para casa o que tinha uma propaganda dessas na embalagem?
A chamada de informação complementar é feita de maneira voluntária pela empresa e segue normas iguais para todos os países do Mercosul. O problema é que as regras são bem menos rígidas que as alegações funcionais e basta o produto ter a quantidade do nutriente alegado para estampar a propaganda no rótulo.
"No Brasil, não existem restrições aos alimentos que podem ser enriquecidos, então, mesmo produtos pouco saudáveis podem ser ricos em vitaminas", explica o especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa, Rodrigo Martins de Vargas.O que quer dizer que, às vezes, a embalagem destaca justamente uma informação positiva, mas, como acontece com os biscoitos recheados, o alimento tem outros valores bem negativos, como alto valor de açúcar e sódio.
Certificadas
No Brasil, apenas sete substâncias com propriedades funcionais são aprovadas. Veja as principais:
Fibras alimentares
Relacionadas à melhora do funcionamento do intestino.
Ômega 3
Auxilia na manutenção de níveis saudáveis de triglicerídeos.
Fitoesteróis
Atua na redução das taxas de colesterol ruim no organismo.
Probióticos
Contribuem para o equilíbrio da flora intestinal. Algumas empresas pedem que sejam incluídos benefícios para o sistema imune, mas não foi aprovado porque não existem estudos científicos suficientes, em humanos, que comprovem esse efeito.
Licopeno
Tem ação antioxidante, ou seja, impede o aumento dos radicais livres, moléculas responsáveis pelo envelhecimento precoce.
Sem provas
Por enquanto, as companhias de alimentos responsáveis pelo iogurte probiótico e pelo azeite de oliva não comprovaram cientificamente para a European Food Safety Authority (EFSA) os benefícios prometidos para aumentar as defesas do corpo e elevar os níveis de colesterol bom no sangue, respectivamente.
Dê sua opinião
Durante as compras, o que você observa no rótulo dos alimentos antes de levá-los para casa?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Na parte da frente da embalagem, em letras garrafais, os benefícios são muitos: leite enriquecido com ômega 3, pão integral fonte de fibras ou leite fermentado com probióticos. O problema é quando essa propaganda desvia a atenção do consumidor da questão mais importante: os dados nutricionais pouco saudáveis contidos nesses produtos.
De olho nesta tendência de as empresas apenas valorizarem algumas substâncias contidas nos alimentos, a União Europeia está lançando critérios rígidos para o uso de termos como "probiótico" ou "antioxidante" que impliquem algum ganho para a saúde do consumidor. Agora, qualquer alegação não comprovada cientificamente relacionando, por exemplo, a ingestão do produto à perda de peso será revista e proibida. Tudo para que o consumidor não leve, na expressão popular, "gato por lebre".
O aperto na legislação surtiu efeito. De quase 3 mil pedidos de registro de ingredientes como ativos para a saúde, apenas 241 passaram pelo crivo do órgão regulador europeu. Em um reteste com 91 produtos reprovados no primeiro exame, apenas dois foram aprovados.
Avaliação
Segundo a nutricionista Carolina Bulgacov Dratch, coordenadora técnica do Conselho Regional de Nutricionistas do Paraná, medidas como essas ajudam o consumidor. "É uma maneira de garantir que o alimento é benéfico como diz a propaganda."
O especialista em regulação e vigilância sanitária Rodrigo Martins de Vargas, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), garante que o órgão brasileiro tem esse cuidado há mais de uma década. "No Brasil, essa propaganda é regulamentada desde 1999. A Anvisa se preocupa em só autorizar a publicidade em caso de alegações comprovadas cientificamente, tudo para que o consumidor não seja enganado."
A Anvisa permite que as empresas com produtos aprovados estampem em suas embalagens as propriedades que o alimento tem, mas não autoriza que elas garantam que o produto vai curar, tratar ou sequer prevenir qualquer doença. "A empresa expõe a composição do produto, não sua possível ação benéfica. Não podemos garantir que o antioxidante no alimento vai realmente evitar o envelhecimento. Dizer isso seria propaganda enganosa e está ferindo a legislação."
Na prática
A médica nutróloga da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) Marcella Garcez explica que, na prática, algumas brechas impedem que o rigor se mantenha no Brasil. "Basta a empresa entrar com um pedido de registro e, enquanto o protocolo é apreciado, ela lança o produto no mercado. Caso precise de revisão, ele é retirado das prateleiras e o rótulo adaptado, mas aí ele já cativou o consumidor."
Leia sempre as tabelas nutricionais
Um ponto importante para não cair em ciladas é que, mesmo diante de propagandas bem atrativas na embalagem, os consumidores não deixem de ler atentamente os rótulos dos produtos, comparem as tabelas nutricionais de marcas diferentes e, principalmente, entendam a composição do que estão levando para casa.
Um caso típico de engano é o dos produtos industrializados enriquecidos com vitaminas, nos quais as doses de nutrientes benéficos não são tão efetivas para prevenir doenças. "Facilmente a pessoa poderia ingerir essas vitaminas com mais qualidade em uma alimentação equilibrada", explica a médica nutróloga Marcella Garcez.
O mesmo acontece com o leite enriquecido com ômega 3, cuja quantidade não é suficiente para fazer o efeito farmacológico. Segundo Marcella, o nutriente agregado está tão manipulado que a disponibilidade para o organismo é pequena. "O antioxidante é muito difícil de ser incluído em um industrializado porque tem sabor característico rançoso de peixe, como o ômega 3. Se as indústrias incluíssem os nutrientes nas proporções necessárias para fazer efeito, ninguém conseguiria tomar pela falta de palatabilidade do produto."
Na dúvida, ingira a menor quantidade possível de industrializados, evite produtos com altas taxas de sódio, valor energético, gorduras saturadas e trans e prefira sempre os alimentos naturais, ricos em vitaminas, sais minerais, proteínas, fibras e gorduras insaturadas.
E não adianta se iludir: comer alimentos industrializados, mesmo enriquecidos ou cheios de alegações funcionais, não substitui uma dieta equilibrada e a prática regular de exercícios físicos. Também de nada adianta tomar um único produto o dia todo na esperança de ficar mais saudável.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora