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A situação de calamidade pública registrada no Rio Grande do Sul desde a semana passada — com ao menos 107 mortos, 146 desaparecidos e 330 mil desalojados até esta sexta-feira (10) — uniu famosos e cidadãos comuns de diversos estados do país nos últimos dias com o objetivo de ajudar o povo gaúcho.
Entre as ações realizadas estão a disponibilização de helicópteros, jet skis, barcos e veículos 4x4 para auxílio nos resgates, e a organização de inúmeras campanhas para sanar necessidades dos desabrigados. Há também o trabalho abnegado de milhares de pessoas que decidiram colocar os pés na água, na lama e nos abrigos dos 497 municípios atingidos pelas fortes chuvas.
“Não gosto e não curto postar tudo que faço, mas este post é para incentivar ainda mais as pessoas a ajudarem”, escreveu o jogador Neymar Junior na rede social X com fotos dos seus aviões carregados de mantimentos, água e outros itens. “Agradeço aos pilotos das minhas aeronaves e a todas as pessoas envolvidas”, continuou.
O cantor sertanejo Gustavo Lima também se mobilizou para encher um avião com doações para o povo sul-rio-grandense. “Nesse momento de profunda calamidade, quero de coração aberto prestar minha solidariedade a todas as famílias, vítimas dessa catástrofe”, afirmou em seu perfil no Instagram, ao agradecer o apoio de diversas empresas da região e lançar uma campanha no estado de Goiás.
“Essa é a primeira carga que sai diretamente para o Rio Grande do Sul atender as necessidades dos nossos irmãos e, com isso, a gente começa um movimento muito bacana aqui em Goiânia”, disse. “Você, do estado de Goiás, venha fazer parte dessa corrente!”, pois “a gente sempre tem muito mais do que merece”, pontuou, solicitando roupas, alimentos, água, medicamentos e outros itens.
Além de campanhas como essa com doação de produtos, o comediante gaúcho Eduardo Gustavo Christ – conhecido como Badin, o Colono –, abriu uma vaquinha online para auxiliar seus conterrâneos em necessidade, e arrecadou mais de R$ 60 milhões até esta quinta-feira (9).
“Juntos estamos ajudando milhares de pessoas a superar esse momento tão difícil”, afirmou no Instagram, ao citar que o valor está sendo destinado primeiramente a situações emergenciais, e depois deverá contribuir para a reconstrução das comunidades atingidas. “Obrigado por fazer parte disso com a gente”, disse o humorista de Aratiba, município do extremo norte do Rio Grande do Sul que foi fortemente atingido pelas chuvas.
Cidade inteira de Santa Catarina se mobiliza para ajudar
No entanto, não são apenas os famosos que estão motivando multidões. Cidadãos comuns como o casal José Spindola Junior e Melany Machado começaram a arrecadar água, colchões e materiais de limpeza assim que souberam dos primeiros relatos de necessidade no estado vizinho. “Iniciamos uma campanha pequena aqui em Lages, Santa Catarina, mas a iniciativa tomou proporções gigantes”, relataram em entrevista à Gazeta do Povo.
Segundo eles, centenas de moradores da cidade aderiram à ideia e outros municípios da Serra Catarinense também se uniram à campanha. “Conseguimos mais de 400 voluntários, e os empresários começaram a disponibilizar carretas e empilhadeiras para ajudar nos envios”, relata Junior, que já somou 140 toneladas de doações encaminhadas ao Rio Grande do Sul em 10 carretas e dois caminhões-baú.
“E carregamos duas aeronaves nesta quarta-feira (8) aqui no aeroporto de Lages com mais doações para quem precisa”, conta a esposa. “Estamos a todo vapor!”, garantiu.
Voluntários atuam nos salvamentos em áreas atingidas
E para que essas doações encontrem a população que precisa, centenas de voluntários têm auxiliado no resgate de famílias em regiões alagadas até a altura do telhado das residências, em espaços urbanos e em áreas rurais de difícil acesso. É o caso, por exemplo, do advogado Wagner Dalla Val e do empresário Eduardo Virissimo, que decidiram resgatar dezenas de pessoas no interior do município de Bento Gonçalves.
“Ocorreram vários deslizamentos no interior, e as pessoas precisavam de ajuda”, conta o advogado, que caminhou horas pelo meio do mato e na beira do rio até chegar às comunidades atingidas. “E, para tirar as pessoas de lá, tivemos que subir pelas trilhas com mulheres, crianças e idosos”. Ao todo, cerca de 100 pessoas foram resgatadas.
“Conseguimos salvar famílias inteiras e também crianças que estavam longe dos pais porque as barreiras os impediam de alcançar a casa de outro familiar”, conta Virissimo, emocionado ao lembrar do momento em que chegou a um dos abrigos carregando um menino e percebeu que a mãe dele estava lá. “A felicidade dela ao reencontrar o filho não tem explicação. Foi marcante!”.
Surfistas profissionais como Lucas Chianca, conhecido como Chumbo, também se voluntariaram nas cidades do Rio Grande do Sul para alcançar, de jet skis, os moradores das áreas inundadas. “É triste ver tudo isso, mas o coração fica mais leve por estar aqui fazendo minha parte”, escreveu nas redes sociais. “Ajudem o Rio Grande do Sul”, convidou.
Assim como ele, o surfista Derek Rabelo, que é cego e mesmo assim ficou conhecido por surfar ondas gigantes dentro e fora do Brasil, também conseguiu jet skis para ajudar as equipes, chamou amigos e participou dos resgates, tirando mais de 60 pessoas das áreas de risco.
“E a primeira pessoa que tiramos foi um idoso que estava trancado sozinho há dois, três dias, sem luz e sem alimento”, relatou em seu perfil no Instagram. “Tem sido um momento muito desafiador, mas o importante é todo mundo estar junto para resgatar o maior número de pessoas.”
Idosa de 74 anos prepara marmitas para os desabrigados
Quem é resgatado tem sido levado a abrigos da cidade, onde recebe água, roupas, cobertores e o acolhimento dos voluntários. “Inclusive, o mais gratificante nesse momento tão difícil é ver a dedicação e o empenho de quem está doando seu tempo para ajudar”, relata a professora aposentada Ieda Martins, de 74 anos.
Moradora da área Leste de Canoas, que não foi afetada pelas inundações na cidade, ela se uniu aos vizinhos para preparar centenas de marmitas e lanches diariamente para entregar aos desalojados. “Começamos logo que os primeiros abrigos foram abertos”, afirma a idosa, que tem auxiliado cerca de 200 pessoas por dia.
Para realizar a ação, os vizinhos compram ingredientes com recursos próprios, cozinham os alimentos, preparam as embalagens e entregam todas as refeições com mensagens de esperança. Afinal, dona Ieda e os voluntários que a ajudam têm certeza de, apesar das dificuldades, logo, logo, “tudo isso vai passar”.
Saiba como colaborar com as cidades do Rio Grande do Sul
De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, mais pessoas podem contribuir com atendimentos nos abrigos, doações e no acolhimento das famílias afetadas. Para isso, a coordenadora Sabrina Ribas pede que os interessados acessem o site SOS Enchentes e leiam as orientações de como proceder.
“Lembrando que uma necessidade que temos nesse momento é de kits de higiene e alimentação, e explicamos como montá-los para que possam ser distribuídos rapidamente a quem precisa”, informa.
Além disso, a coordenadora de Comunicação da Defesa Civil de Porto Alegre, Bárbara Barbieri, agradece a todos que têm contribuído com lanches, atendimentos de saúde, apoio psicológico, disponibilização de embarcações, trabalho nos centros de triagem e também carregando e descarregando dezenas de caminhões.
“É uma ajuda que não há como mensurar”, garante. “E é por isso que costumamos dizer que a defesa civil somos todos nós”, finaliza.