O número de mulheres assassinadas em Curitiba e região aumentou 34% nos primeiros oito meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2008 de 67 casos para 90. Na média, são 11 mulheres mortas a cada mês, quase 3 por semana. É o que apontam os dados dos boletins emitidos diariamente pelo Instituto Médico-Legal da capital. Na faixa etária superior aos 30 anos, o crescimento foi ainda maior: 33 casos neste ano, contra 22 no ano passado, ou seja, uma elevação de 50%. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), não houve um fator específico para determinar esse aumento. O que chama atenção no levantamento é a similaridade no perfil das vítimas que, em sua maioria, foram vítimas da violência doméstica e/ou do envolvimento com drogas. A maior parte dos crimes foi cometida com arma de fogo.
Na opinião do pesquisador Júlio Jacobo Waiselfisz, da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), de Recife, os dados regionais podem indicar o surgimento de uma tendência. Historicamente, existe uma forte masculinização no crime: na média nacional, apenas 8% dos assassinatos são cometidos contra mulheres. Conforme os dados de Curitiba e região metropolitana, em 2009 as mulheres representaram 8,68% dos 1.037 homicídios. Em 2008, 6,85% de 978. No entanto, ele observa que para se ter a confirmação da tendência de aumento dos crimes contra as mulheres é importante que seja feita uma pesquisa durante três anos.
Os homens continuam morrendo mais, segundo o levantamento do Saúde Brasil, do Ministério da Saúde, publicado em 2007. O índice entre o sexo masculino é de 53,7 mortes por 100 mil habitantes, muito distante dos casos de homicídios entre mulheres, com 4,7 mortes por 100 mil. Os dados mostram também que nacionalmente a forma de cometer o crime sofreu mudanças nos últimos anos. Se antes eram a arma de fogo e a agressão, após 1994 a arma branca tem sido a mais usada.
Falta de denúncia eleva risco
Para a coordenadora do Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência Doméstica, ligado à Secretaria de Estado da Justiça do Paraná, Marciana de Castro Bastos, a falta de notificação dos casos de agressão sofridos pelas mulheres ajuda as ocorrências de crimes fatais. "O desconhecimento ainda é um fator preponderante, pois a mulher acredita que não tem capacidade para tocar a vida sozinha", alerta. Outros aspectos lembrados pela especialista são a baixa autoestima e o envolvimento com o álcool por parte dos agressores.
Segundo Marciana, a Lei Maria da Penha veio dar poder à mulher. Sancionada em agosto de 2006, surgiu como mecanismo para aumentar o rigor das punições dos casos de violência contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar. Por outro lado, a professora e pesquisadora da área de gênero da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Sônia Ana Leszczynski, afirma que só a existência da lei não faz mudar o comportamento de homens e mulheres.
A legislação não protege de aspectos religiosos, financeiros e culturais, lembra. A prevenção deve ser feita desde cedo. Uma saída é incentivar a educação da mulher, desde a base familiar, para que ela venha a se tornar independente e consciente do seu papel, sem passar a imagem de frágil. Muitas se submetem à violência por causa dos filhos, diz a especialista. "É preciso saber dizer não e colocar limites nos parceiros; não deixar que as situações cheguem a um nível sem volta."