Pouco mais de 1,5 milhão de brasileiros usam maconha diariamente, revela o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado ontem pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo, concluído em março, mostra que 7% da população adulta, o equivalente a 8 milhões de pessoas, já experimentaram a substância.
Do total de usuários diários da droga, 37% são dependentes. Segundo a psiquiatra Clarice Sandi Madruga, coordenadora do levantamento, a frequência do uso não está relacionada diretamente à dependência. "Há pessoas que fumam todos os dias e têm o cotidiano menos afetado pela droga que outras que consomem com menos frequência, mas têm maior vulnerabilidade genética", explica. "Mesmo fumando de forma menos regular, essas pessoas tendem a desenvolver dependência e ter sua vida pessoal mais impactada pela droga". Para o estudo, os pesquisadores entrevistaram 4.607 pessoas com mais de 14 anos, em 149 municípios espalhados por todo o território nacional.
Países
De acordo com o levantamento, o Brasil não está entre os países com maiores índices de uso de maconha no mundo. No ano passado, 3% da população adulta brasileira utilizou a substância ao menos uma vez, enquanto nos países da Europa o porcentual foi de cerca de 5%. Entre os países onde foi feito levantamento semelhante, o Canadá teve o maior índice: 14%. Para os responsáveis pela pesquisa no país, um dos aspectos mais relevantes do estudo é a incidência do uso de maconha entre os adolescentes. Dos 1,5 milhão de usuários diários de maconha, cerca de 500 mil são adolescentes. No grupo de jovens, o índice de dependência alcança 10%.
O levantamento mostra ainda que 62% das pessoas que experimentaram a droga tinham menos de 18 anos quando fumaram pela primeira vez. "Até os 25 anos, qualquer droga psicotrópica, e até mesmo o álcool, é nociva para o desenvolvimento e causa mudanças químicas permanentes no cérebro", afirma Clarice. Segundo a psiquiatra, o estudo revelou que 17% dos adolescentes que admitiram o uso conseguiram maconha dentro da própria escola.
Mesmo com uma quantidade considerada relevante de usuários que usam maconha diariamente no país, 75% do total de entrevistados se mostraram contrários à legalização do consumo da substância. Em uma projeção nacional, significariam 111 milhões de brasileiros contrários, contra 16,3 milhões (11%) favoráveis à liberação.
Marcha
Para o antropólogo Rafael Gil Medeiros, que foi um dos organizadores da Marcha da Maconha em Porto Alegre, a divulgação de estudos sobre a população de usuários ajuda a dar visibilidade ao debate sobre a legalização da maconha. "É um numero que causa alarde. Mas o mais interessante não é ser contra ou a favor nesta questão, mas discutir as políticas públicas sobre o uso de drogas. Atualmente não existe uma discussão sobre o assunto", afirma Medeiros. "Eu, por exemplo, não concordo com muitas das propostas para a legalização. É algo a ser discutido."