Enquanto as discussões sobre as mudanças que Curitiba enfrentará para receber jogos da Copa do Mundo de 2014 concentram-se na execução ou não das obras do metrô, a região da cidade que sediará as partidas de futebol continua na expectativa do que está por vir. Nos quarteirões vizinhos da Arena da Baixada, nos bairros Água Verde e Rebouças, moradores e comerciantes aguardam ansiosos pelas mudanças. Ao mesmo tempo que veem a Praça Afonso Botelho em processo de degradação e sentem a insegurança aumentar, eles já esperam a valorização dos imóveis devido as futuras melhorias. "O entorno da Arena com certeza passará por modificações. A transformação maior será nesta região", afirma o gestor de Curitiba para a Copa, Luiz de Carvalho.Sem um projeto urbanístico definitivo para ser executado pela prefeitura, a Gazeta do Povo ouviu opiniões de especialistas, moradores e universitários para traçar quais as principais carências da região e os cuidados a serem tomados na execução das obras. Além da conclusão do estádio e da construção de um estacionamento, são necessárias mudanças no calçamento, iluminação e revitalização das ruas e da praça com o intuito de melhorar a acessibilidade à Arena. A mobilidade no entorno do estádio (principalmente nos dias de jogo) também é vista como uma preocupação pelos especialistas problema que pode ser contornado com o rearranjo do tráfego de veículos e a melhoria da operacionalização do transporte coletivo.As propostas apresentadas, há cerca de um ano, pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) à Federação Internacional de Futebol (Fifa) já passaram por algumas alterações de acordo com ponderações e orientações dadas pela instituição esportiva. Os detalhes finais do projeto só serão discutidos depois que a Fifa apresentar o parecer final. De acordo com Carvalho, a federação deve se manifestar até 15 de fevereiro. Técnicos do Ippuc não devem se pronunciar antes dessa data. O começo das obras na cidade está previsto para março deste ano. "Nossa vantagem é que não vamos precisar iniciar uma obra do zero", afirma Carvalho.Especialistas defendem que quaisquer obras que entrem nos planos da cidade tenham a preocupação com o legado que ficará para a população e para o município após o evento esportivo. O impacto de curto prazo provocado pelos jogos da Copa deve se refletir em benefício posterior aos moradores da região e aos frequentadores do estádio. "Sobretudo porque vai dinheiro público nisso", explica o urbanista Clóvis Ultramari, professor de Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "É preciso melhorar a qualidade para que o cidadão use o espaço público. Não pode pensar só para o evento", pondera o arquiteto Gustavo Pinto, presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Paraná (Asbea-PR).
Praça abandonada
A Praça Afonso Botelho é um dos espaços que deve mudar muito nos próximos quatro anos. Hoje o local parece abandonado, com calçadas destruídas, canteiros mal cuidados, grades arrombadas e pichações. "Espero que melhorem a praça e coloquem banheiros públicos que funcionem", afirma o comerciante Antonio Peres. "Precisa melhorar tudo. Até com relação à segurança. Temos tido problema com consumo de drogas dentro e fora da praça", conta a auxiliar administrativa Ana Maria Pereira Moço. Os jovens que frequentam a pista de skate do local temem que as reformas eliminem o equipamento, um dos poucos públicos da cidade.
Com base em um projeto sul-coreano, um grupo de seis estudantes de Arquitetura da PUC-PR sugere que a praça seja integrada ao estádio através de rampas com leve inclinação que possam ser usadas diariamente pelos frequentadores do local. "Todas essas mudanças têm de ser absorvidas pela comunidade para que as pessoas estejam envolvidas com o que está sendo feito", afirma Rodolfo Parolin Hardy, um dos integrantes do sexteto. "A praça será modernizada e não terá estacionamento", adianta Carvalho.
O estacionamento, de acordo com propostas apresentadas, deverá ser construído entre as ruas Buenos Aires, Coronel Dulcídio e Brasílio Itiberê. Contudo, ainda não se sabe quantos imóveis terão de ser desapropriados para a execução das obras. "Ainda está em discussão com o clube [Atlético]. Estamos avaliando as questões legais", explica Carvalho. A conversa com os moradores da região deve acontecer ainda neste ano e as negociações não deverão ser fáceis. "Eu não gostaria de sair. A não ser que a prefeitura desaproprie", afirma um morador da Buenos Aires que se identificou apenas como Mário.
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