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Paulo Nascimento na Pracinha do Batel, logradouro que representa o glamour da região | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Paulo Nascimento na Pracinha do Batel, logradouro que representa o glamour da região| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Dois lados

Um antagonismo natural

Um bairro teve sua paisagem completamente alterada nos últimos 20 anos, enquanto o outro pouco mudou. Portanto, não é só a renda que diferencia Caximba e Batel, em Curitiba. O primeiro está a 23 quilômetros do Centro, enquanto o segundo virou praticamente uma extensão do coração da capital. No Batel, há maior prevalência de pessoas acima dos 65 anos, enquanto na Caximba, de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. "Em princípio, pessoas com mais idade tendem a ter renda maior, pois estão estabilizados", explica Olga Firkowski, professora de Geografia da UFPR.

"O Batel estava meio ‘desativado’ e começou a ganhar corpo. O comércio foi crescendo, e os restaurantes e prédios comerciais foram se instalando. Hoje, o miolo tem a Praça da Espanha, que se transformou no movimento do Batel Soho", relata o engenheiro Paulo Roberto Nascimento, presidente da Associação de Condomínios do Batel e morador antigo do bairro. Nascimento conta histórias de empresários que começaram do zero e prosperaram, fruto do constante vaivém do Batel. "Quando chega por volta das 6 horas, o volume de gente que desce dos ônibus chama a atenção", diz.

Na outra ponta da cidade, o desenvolvimento não foi notado. Proprietário de uma cerâmica há 50 anos e de uma madeireira há 16, Gerson Raksa viu poucas mudanças no Caximba nas últimas décadas. "Não há estrutura nenhuma por aqui. E isso atrapalha. Todo sábado eu saio daqui para procurar lazer", diz. O empresário não vê possibilidade de outro negócio na região. "Para o meu comércio, o bairro é bom. Mas algo que depende de público não daria certo. Quase ninguém vem para cá", reclama.

Há outro antagonismo entre os bairros: a fama. O Batel é reconhecido por seu glamour, enquanto a Caximba conviveu nas últimas duas décadas com um aterro sanitário como vizinho. "O bairro ficou com uma fama muito ruim. Se alguém tinha interesse em vir para cá, deixou de ter", diz Raksa. (VB)

Jardim Bela Suíça tem a maior renda do Paraná

Muros altos, portões fechados e câmeras de segurança cercam os casarões do Jardim Bela Suíça, em Londrina. O pequeno bairro é uma das áreas mais nobres da cidade e do Paraná. Com R$ 5.346 de renda média mensal, a localidade é a mais rica do estado – R$ 1,2 mil a mais que a renda do bairro Batel, em Curitiba. Não por acaso, o alto padrão dos imóveis despertou cuidados extras com segurança e transformou o bairro em uma espécie de condomínio fechado.

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Enquanto Mossunguê se consolida, Linha Verde é aposta do futuro

O bairro Mossunguê teve aumento de R$ 500 na renda média e se tornou o terceiro bairro mais rico de Curitiba, atrás apenas de Batel e Bigorrilho.

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  • Gerson Raksa em sua madeireira na Caximba. Bairro ficou conhecido por receber o aterro da cidade

Três mil e quinhentos reais separam o bairro de Curitiba com a renda média mensal per capita mais alta da cidade do bairro com a menor renda. Enquanto a Caximba registra R$ 559, o Batel apresenta média de R$ 4.146, segundo dados do Censo 2010. A comparação de rendimentos ilustra mais do que a diferença entre um bairro pobre localizado no extremo sul da cidade e um vizinho da região central. A distância é fruto de uma dinâmica natural do crescimento de grandes cidades, porém, também reflete aspectos inerentes ao desenvolvimento do município, como o crescimento induzido pelo planejamento que concentrou a população de baixa renda em bairros distantes do Centro, especialmente na Região Sul.

Observar a cidade pelas graduações de renda mostra como Curitiba se desenvolveu. Os bairros periféricos (do Sul, Leste, Oeste e Norte) apresentam menor rendimento, enquanto, a partir do Centro, é possível vislumbrar crescimento espelhado para o Nordeste e Sudoeste. As razões são simples: nas regiões mais desenvolvidas há equipamentos urbanos – hospitais, escolas e comércios. Além disso, elas são atravessadas pelo ônibus expresso no eixo Norte-Sul, fator de consolidação da região.

Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt observa a influência do planejamento municipal. "Quando há grandes em­­preendimentos de baixa renda em uma região, a média do bairro é afetada. O Sul e o Sudeste têm grandes quantidades desses conjuntos habitacionais", explica. Os pontos isolados ao Norte, por outro lado, se aproximam da realidade do município vizinho, Almirante Taman­daré, esclarece Olga Fir­­kowski, professora do departamento de Geografia da Uni­­ver­sidade Fe­­deral do Paraná (UFPR) e coordenadora do Nú­­cleo Curi­tiba do Observatório das Metrópoles.

Cidade ideal

Na avaliação de Olga, os eixos dos expressos induziram o crescimento dos bairros localizados a Nordeste e a Sudoeste do Centro. "No Portão e no Bigorrilho, os comércios e serviços estão no térreo e na sobreloja dos edifícios. O planejamento urbano foi seletivo e induziu essa formação", afirma. Contudo, a cidade ideal não deve conter diferenças consideráveis entre alta e baixa renda. A solução, portanto, seria o município instalar equipamentos urbanos nas áreas periféricas para atrair interesse. "Isso traz ganhos para a região e os proprietários têm imóveis valorizados", afirma Hardt.

Os dados de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – referentes ao rendimento médio de pessoas com 10 anos ou mais – são usados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para acompanhar o desenvolvimento do município. Supervisor de Informações do Ippuc, Lourival Peyerl afirma que a localização de bolsões com menor renda em regiões periféricas não foi somente induzida pelo município, pois faz parte de uma dinâmica natural. Mesmo assim, o investimento nas áreas é apontado como solução. "Queremos aumentar o padrão de quem vive nas regiões mais pobres. Por isso, estamos investindo para permitir que comércios se instalem nelas", diz.

Embora a administração municipal não possa obrigar o empresário a se instalar em determinada região, os equipamentos urbanos e serviços tornam o negócio mais viável. "Desde que o zoneamento permita, quem toma a decisão de criar algo é o comerciante. Ele precisa perceber que há demanda", afirma Hardt.

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