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População

No extremo da riqueza e da pobreza

Paulo Nascimento na Pracinha do Batel, logradouro que representa o glamour da região | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Paulo Nascimento na Pracinha do Batel, logradouro que representa o glamour da região (Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo)
Gerson Raksa em sua madeireira na Caximba. Bairro ficou conhecido por receber o aterro da cidade |

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Gerson Raksa em sua madeireira na Caximba. Bairro ficou conhecido por receber o aterro da cidade

Três mil e quinhentos reais separam o bairro de Curitiba com a renda média mensal per capita mais alta da cidade do bairro com a menor renda. Enquanto a Caximba registra R$ 559, o Batel apresenta média de R$ 4.146, segundo dados do Censo 2010. A comparação de rendimentos ilustra mais do que a diferença entre um bairro pobre localizado no extremo sul da cidade e um vizinho da região central. A distância é fruto de uma dinâmica natural do crescimento de grandes cidades, porém, também reflete aspectos inerentes ao desenvolvimento do município, como o crescimento induzido pelo planejamento que concentrou a população de baixa renda em bairros distantes do Centro, especialmente na Região Sul.

Observar a cidade pelas graduações de renda mostra como Curitiba se desenvolveu. Os bairros periféricos (do Sul, Leste, Oeste e Norte) apresentam menor rendimento, enquanto, a partir do Centro, é possível vislumbrar crescimento espelhado para o Nordeste e Sudoeste. As razões são simples: nas regiões mais desenvolvidas há equipamentos urbanos – hospitais, escolas e comércios. Além disso, elas são atravessadas pelo ônibus expresso no eixo Norte-Sul, fator de consolidação da região.

Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt observa a influência do planejamento municipal. "Quando há grandes em­­preendimentos de baixa renda em uma região, a média do bairro é afetada. O Sul e o Sudeste têm grandes quantidades desses conjuntos habitacionais", explica. Os pontos isolados ao Norte, por outro lado, se aproximam da realidade do município vizinho, Almirante Taman­daré, esclarece Olga Fir­­kowski, professora do departamento de Geografia da Uni­­ver­sidade Fe­­deral do Paraná (UFPR) e coordenadora do Nú­­cleo Curi­tiba do Observatório das Metrópoles.

Cidade ideal

Na avaliação de Olga, os eixos dos expressos induziram o crescimento dos bairros localizados a Nordeste e a Sudoeste do Centro. "No Portão e no Bigorrilho, os comércios e serviços estão no térreo e na sobreloja dos edifícios. O planejamento urbano foi seletivo e induziu essa formação", afirma. Contudo, a cidade ideal não deve conter diferenças consideráveis entre alta e baixa renda. A solução, portanto, seria o município instalar equipamentos urbanos nas áreas periféricas para atrair interesse. "Isso traz ganhos para a região e os proprietários têm imóveis valorizados", afirma Hardt.

Os dados de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – referentes ao rendimento médio de pessoas com 10 anos ou mais – são usados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para acompanhar o desenvolvimento do município. Supervisor de Informações do Ippuc, Lourival Peyerl afirma que a localização de bolsões com menor renda em regiões periféricas não foi somente induzida pelo município, pois faz parte de uma dinâmica natural. Mesmo assim, o investimento nas áreas é apontado como solução. "Queremos aumentar o padrão de quem vive nas regiões mais pobres. Por isso, estamos investindo para permitir que comércios se instalem nelas", diz.

Embora a administração municipal não possa obrigar o empresário a se instalar em determinada região, os equipamentos urbanos e serviços tornam o negócio mais viável. "Desde que o zoneamento permita, quem toma a decisão de criar algo é o comerciante. Ele precisa perceber que há demanda", afirma Hardt.

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