Há quase dois anos, a assistente administrativa Adriana Cristina Mariane, 20 anos, trava uma luta incansável, mas sem perspectivas de vitória, na Vila Guarituba, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. O terreno onde ela mora com a família está infestado por duas pragas. Na casa de madeira, os cupins tomaram conta das tábuas, portas e forro. "O chão fica cheio daquele pozinho [fezes]", diz. À noite, no quintal, quem dá o ar da graça são as ratazanas. "Elas são enormes e feias, mexem no lixo... ui, tenho nojo só de lembrar", conta Adriana, que tinha esperança de que a chegada do inverno espantasse as pragas, mas estava enganada.

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É comum achar que baratas, formigas, cupins, aranhas e ratos morrem ou desaparecem com o frio. Na verdade, segundo os especialistas, eles ficam mais reclusos, embora continuem presentes. "No inverno, as pragas aparecem com freqüência menor, mas as pessoas ficam mais fechadas em casa, se alimentam mais e sempre pode ficar algum resíduo no chão, que é um atrativo para baratas, formigas, ratos e outros animais", afirma Juarez Martins, supervisor operacional de uma empresa especializada no controle de pragas.

Segundo a bióloga Cláudia Staudacher, da Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores de Curitiba, a presença e proliferação das pragas segue a lógica dos "quatro As": "havendo água, alimento, acesso fácil e abrigo, as pragas sempre estarão presentes. Não há como fazer um controle sem levar em conta esses quatro pontos", diz.

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Na casa de Adriana, o ambiente contribui para a permanência das pragas. Por isso o combate é tão difícil. A Vila Guarituba não tem saneamento básico. Atrás do terreno dela há uma valeta. As ratazanas vivem no esgoto e saem apenas atrás de comida. "Uma vez a gente ‘limpou’ a valeta, roçamos o mato e até que diminuiu um pouco o número de ratos. Mas eles sempre voltam", diz a assistente administrativa, que já usou veneno para tentar controlar as pragas e, no caso dos ratos, até armadilhas como ratoeiras.

Já o abandono parcial da casa de madeira ajuda o cupim a se multiplicar. "A gente está usando só a cozinha porque já mudamos para uma casa de alvenaria que estamos fazendo nos fundos", explica. Segundo ela, a residência antiga era muito velha.

No caso de cupins, formigas (que se instalam em tomadas e aparelhos domésticos) e traças (que comem tecidos e papel), o prejuízo geralmente é apenas material. Já baratas representam risco à saúde porque transportam bactérias. Os ratos podem transmitir doenças letais ao homem, como leptospirose e hantavirose.

A bióloga Cláudia explica que para controlar as pragas não adianta só aplicar veneno. É preciso manter a casa e o quintal sempre limpos, varridos e livre de entulhos. "Não adianta pôr veneno se a pessoa não se preocupar em limpar o ambiente ou deixar o lixo fechado", afirma. No caso dos ratos, muitas vezes é preciso um trabalho conjunto entre vizinhos. "Às vezes você faz tudo para eliminar os quatro ‘A’s, mas o seu vizinho não. Aí não adianta nada", completa Cláudia. "O foco geralmente está na casa onde o cuidado com a limpeza é menor. A mobilização de todos os moradores é muito importante para combater os ratos", concorda Juarez Martins. Segundo ele, é melhor não tentar matá-los, além de evitar o contato com os roedores ou suas fezes, pois a captura deve ser feita por pessoas habilitadas e com equipamentos especiais de segurança. "Hoje temos produtos muito eficazes para combater qualquer tipo de praga", conclui.