A coceirinha no nariz é sinal de sono, mas mesmo cansado Davi reclama se a mãe ameaça afastar o seu carrinho do espaço da brinquedoteca. Ontem foi o primeiro dia em que o bebê, de 1 ano e 4 meses, teve permissão para deixar o quarto no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, e se juntar às outras crianças. Ele está internado desde o dia 19 deste mês. A mãe, Ana Cláudia Soares de Souza Coelho, afirma que a brincadeira ajuda muito no tratamento. Ela conta que quando o irmão de Davi, que tem 9 anos, vai ao hospital é visível a mudança no estado de saúde do bebê. "Se ele está com febre, ela diminui na hora", garante Ana, lembrando que os dois são bons parceiros na hora de brincar.
A aluna do curso de Música da Universidade Federal do Paraná Bárbara Trelha Oliveira, voluntária no Pequeno Príncipe, diz que é difícil afastar a criança daquele clima de hospital, mas que quando ela se entrega às atividades desliga completamente. "E o mais interessante é que as crianças puxam o pai, a mãe ou quem estiver acompanhando para a brincadeira", conta Bárbara.
Patrícia Bertolini Izidório, psicopedagoga e educadora brinquedista, é coordenadora das brinquedotecas do Hospital Pequeno Príncipe. Segundo ela, não existem estudos científicos que comprovem a importância da brincadeira na recuperação das crianças, mas inúmeras pesquisas no Brasil e no exterior mostram que o aumento do estresse afeta o sistema imunológico. Então, o ato de brincar reduz o estresse e, consequentemente, melhora a saúde.
Está na lei
Essa preocupação do Pequeno Príncipe é anterior à legislação que obriga os hospitais que oferecem atendimento pediátrico em regime de internação a ter brinquedotecas. A lei é de 2005 e a primeira das três unidades criadas pelo hospital completa seis anos em junho. A Lei 11.104, que é federal, considera brinquedoteca "o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar". "A lei é um superavanço, mas muitos estabelecimentos entendem que basta uma mesa e dois brinquedos", alerta Patrícia.
Ela diz que a brinquedoteca precisa ter um acervo diferenciado e acompanhamento de adultos preparados para esse trabalho. Além disso, completa, é necessário ter muito cuidado com a manipulação dos brinquedos e sua desinfecção. Tudo tem que ser passível de ser lavado com álcool. "Como não existe material fabricado especialmente para o ambiente hospitalar, nossos quebra-cabeças e jogos de cartas, por exemplo, são plastificados", explica a coordenadora.
A lei que exige a instalação de brinquedotecas prevê pena de advertência, interdição, cancelamento da licença e multa para quem não observar o que está determinado. Segundo informações da Federação dos Hospitais do Paraná, os estabelecimentos instalados em Curitiba cumprem o que determina a lei, mas não há informações sobre a situação no interior do estado.
Comemoração
Hoje, no Dia Mundial do Brincar, além das atividades de rotina do setor de Voluntariado, responsável pelas ações de entretenimento no Pequeno Príncipe, serão realizadas oficinas de arte, contação de história, jogos e muitas brincadeiras. À tarde, estagiários da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer vão promover atividades de recreação e estudantes do curso de Música da Universidade Federal do Paraná vão oferecer para as crianças e adolescentes oficinas e atividades de musicalização.