Prefeitura
Levantamento mostra existência de 440 usuários de crack
A prefeitura de Paranaguá fez um levantamento no primeiro trimestre deste ano para saber a dimensão do problema. Encontrou 440 usuários de crack, sendo que 123 homens e 25 mulheres estão vivendo nas ruas. Muitos combinam o vício com o álcool. A prefeitura alega que faz um trabalho multidisciplinar de resgate social, encaminhando viciados ao albergue municipal e outros para tratamento, se o paciente optar por isso. Mas lamenta que, ao contrário do que ocorre no Rio e em São Paulo, não pode fazer a internação compulsória dos viciados.
A prefeitura alega ainda que a Secretaria Municipal de Saúde atende pacientes viciados em drogas no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), que tem acompanhamento até dos parentes, visando a uma ressocialização. Há ainda trabalhos preventivos nas escolas municipais, em parceria com a Polícia Militar.
Usuários de crack encontraram na soja uma nova moeda de troca para sustentar o vício no entorno do Porto de Paranaguá, no Litoral do estado. Eles arrebentam as bicas de caminhões carregados e levam o que conseguem. Os cadeados que reforçam a segurança dos caminhões não são suficientes para impedir a ação dos viciados da "cracolândia da soja" na região portuária. Esses pequenos furtos acontecem com mais frequência durante a noite e a madrugada, quando os caminhoneiros saem do pátio de triagem para os locais de descarregamento que funcionam 24 horas.
Na maioria dos casos em que a soja é furtada dessa forma, os caminhoneiros precisam enfrentar outro drama. Depois de atacados pelos dependentes químicos, eles se deparam com os policiais, que, em vez de perseguir os usuários de drogas, multam os caminhoneiros por sujar a via pública. Eles são obrigados a limpar a rua dos restos de soja que os "craqueiros" não conseguiram pegar. Como estão nas filas que se formam nas ruas próximas aos terminais, os caminhoneiros dizem também que não contam com a autoridade portuária para zelar pela segurança dos veículos.
Para o comandante do 9.º Batalhão da Polícia Militar do Paraná em Paranaguá, major Nivaldo Marcelos da Silva, o maior problema é a dificuldade de manter essas pessoas presas. "Os drogados que cometem esses furtos são conhecidos, mas, mesmo que sejam pegos em flagrante, têm de ser soltos por causa da legislação vigente. Dessa forma, no mesmo dia eles voltam a cometer os mesmos delitos", diz.
O major afirma que uma ação em conjunto com a Polícia Civil já prendeu alguns receptadores da "soja suja". "Prendemos alguns, mas outros receptadores apareceram na mesma velocidade. Estamos constantemente investigando esses casos e acreditamos que os grãos sejam manipulados na área rural de Paranaguá e em alguns casos até levados para outras cidades", completou. Sobre as multas, ele disse que, se o caminhoneiro comprovar com um boletim de ocorrência que houve o furto, pode recorrer.
Modus operandi
Os caminhões de soja contam com dois sistemas de escoamento: as bicas, localizadas na parte de baixo da carreta, e o tombador (na porta traseira do caminhão).
A ação dos usuários de crack é rápida. Eles recolhem a soja das ruas com sacos e até carrinhos de mão. Muitas vezes levam os produtos para cantos abandonados. Depois, vendem os grãos por até R$ 10 a saca de 60 kg (contra R$ 60 do preço normal) para as empresas que vivem da "soja suja", o refugo que sobra nos armazéns e dos caminhões e é utilizado para ração animal. Mas também há casos de troca direta de soja por pedras de crack, segundo caminhoneiros locais.
Caminhoneiros são orientados a trancar bicas
O caminhoneiro Ivanildo Fernandes, de Tupãssi, no Oeste do Paraná, reforçou o seu caminhão para evitar o prejuízo. "O que eu tenho feito é colocar um parafuso grosso, com porca lisa, para dificultar as ações deles. Mas dá dó mesmo é dos jovens caminhoneiros, que não têm essa malícia, vêm aqui e perdem muito, levam multa e ainda têm de pagar o prejuízo", diz.
Nem os caminhoneiros parnanguaras conseguem fugir dos furtos. "É só parar o caminhão na avenida que eles chegam a pé ou de bicicleta e levam a carga. Um prejuízo de duas ou três sacas de soja já faz a gente perder quase a metade do valor do frete. Ganhamos em torno de R$ 120 para levar uma carga com o caminhão pequeno de um armazém ao outro. Quando somos roubados, recebemos só R$ 70", conta o presidente do sindicato dos condutores autônomos de Paranaguá, Ademir Scumsson.
Resposta
O Porto de Paranaguá, por onde foram exportados no ano passado 13 milhões de toneladas de soja e derivados, diz que não pode policiar a área e que, desde 2012, orienta os caminhoneiros a trancar bem suas bicas e tombadores, para evitar a ação dos viciados. As dicas são distribuídas antes de os caminhoneiros chegarem à cidade, em parceria com as concessionárias das estradas que levam ao porto, com a distribuição de folhetos com mapas da cidade e dicas para o descarregamento.
"Hoje esse é o nosso maior problema no porto, desde que eles criaram o pátio e o sistema de controle do caminhão, que só é liberado para vir carregado do Nortão quando tem espaço no porto", afirma Daniel Rodrigues de Oliveira, caminhoneiro de Toledo (PR). Amador Trindade Filho conta seu segredo para evitar a ação dos dependentes químicos. "Tento chegar em Paranaguá no meio da madrugada para descarregar no começo da manhã. O pior é chegar no fim da tarde, começo da noite. Aí, certamente você será chamado para descarregar na madrugada."
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