Aos 65 anos, Maringá é considerada uma cidade jovem, e a pouca idade ajuda a manter bem frescas as lembranças de seus primórdios. Na verdade, o grande mérito é de quem conta essas histórias os desbravadores do município, organizados e reconhecidos pela Associação dos Pioneiros de Maringá. O grupo tem 3,7 mil pioneiros inscritos, muitos dos quais com apenas 10 ou 20 anos a mais que a cidade.
Com fama de solo produtivo, o município do Noroeste paranaense atraiu muitos imigrantes a partir de 1947. Entre as inúmeras famílias que resolveram testar o mito da região, os Borghi se instalaram na Estrada Pinguim, atual Zona Rural, e iniciaram o plantio do café. "Meu pai era plantador, mas a terra de onde viemos era fraca demais", lembrou Anníbal Borghi, de 76 anos, conhecido em Maringá como Seo Zico.
Como forma de retribuir à cidade tudo o que a família cultivou, Seo Zico criou a Festa Junina mais popular e tradicional de Maringá. "Em 1982, reuni uns cinco ou seis vizinhos. Dei tudo: pão, pipoca, amendoim, canjica, mas era para pouca gente", recordou. "No outro ano dobrou o número de pessoas e, no ano seguinte, dobrou de novo. Por isso resolvi avisar para a televisão. Foi quando a festa engrenou."
Há oito anos o evento se tornou patrimônio imaterial do município. "Agora a festa vai de geração para geração. Meu filho vai continuar quando eu morrer. Se acabar minha família, a prefeitura vai continuar [risos]", disse o pioneiro, que se considera um poeta caipira.
Quatro nomes
A cidade ficou conhecida com três outros nomes além do oficial, vindo da canção Maringá, Maringá, de Joubert de Carvalho a letra falava de um coração partido por causa de uma cabocla que havia partido. Esta era a música entoada pelos tombadores de mato da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, a qual fundou o município.
Maringá foi construída com base em um planejamento urbano rigoroso avenidas largas, quarteirões bem delimitados por zonas e funções, e muita área verde. A vasta arborização criou o primeiro codinome: Cidade Verde. Por ter poucos anos de idade, em comparação com a maioria dos habitantes, Maringá foi conhecida por muito tempo como a Cidade Menina. Foi exatamente aos 15 anos, em 1962, que a "menina" precisou amadurecer.
Então secretário de Administração, Antenor Sanches, 85 anos, recebeu uma carta de uma estudante de Poços de Caldas (MG). "Ela queria dados estatísticos da cidade que nasceu de uma canção de Joubert de Carvalho", relembra. "Quando li a forma como ela escreveu, pensei em mudar o termo. Não era mais uma Cidade Menina, havia crescido."
Foi então que o pioneiro, na época apresentador do programa A Voz do Povo, na Rádio Difusora, lançou aos habitantes um novo termo para designar Maringá: a Cidade Canção. "Maringá veio de uma música que estava no auge. Então resolvi fazer uma campanha no rádio para adotar o nome." O apelido foi oficializado por lei.
Homenagem aos pioneiros do Paraná
Contador de causos e poeta caipira, Seo Zico tem vasto repertório de poemas. Cada um apropriado para diversas situações. Entre as composições, uma em especial exalta a vida dos pioneiros paranaenses. Confira um trecho:
No sertão de Maringá,suas matas eram fechadasNão tinha nenhuma abertura,Seus caminhos eram picados.Suas matas eram escuras,meio dia se clareavamO Sol nascia cedo,mas nas árvores pousavaOs pioneiros são heróis que derrubavam o sertãoNo pé de uma árvore,e com o machado na mão,Batia como um pica-pau,e derrubava ela no chãoDepois dava um grito cheio de satisfaçãoAqui vai minha homenagem aos pioneiros do ParanáTambém sou pioneiro,Moro aqui em Maringá.Aqui vai minha homenagem a todos os pioneirosNo cabo de seu machado,Você foi um bom guerreiroPeço uma salva de palmas,Bem que eles mereceramSe hoje aqui nos vivemos bem,É porque a guerra eles venceram