Desde 2001 a sociedade paranaense está sem sua principal referência em termos de eventos, o concurso Glamour Girl. De lá para cá, nenhum acontecimento do jet set chegou aos pés do baile que não só elegia a moça mais bonita e elegante do Paraná, mas também fazia toda a sociedade se ver e aparecer, movimentando todo o mercado de eventos de salões de cabeleireiros a floriculturas, de joalherias a empresas de segurança, de ateliês de costura a manobristas de carros.
A ex-esposa do colunisa social Dino Almeida, criador e organizador do concurso, Nadyesgge Almeida, explica que a idéia surgiu em 1966 e durou até 2000, um ano antes da morte do jornalista. A intenção era movimentar a elite curitibana. "O Dino já havia feito algo parecido 15 anos antes, mas muito menor. Aí resolveu criar o concurso para eleger a mulher mais elegante e fazer as pessoas aparecerem." E conseguiu.
Nadyesgge lembra que as mulheres ficavam tão alvoroçadas com o concurso que chegavam a marcar hora em cabeleireiros com um ano de antecedência. "No dia seguinte ao concurso elas já ligavam para garantir o horário do ano seguinte. Era uma coisa louca!", recorda.
Nas primeiras versões, participavam apenas candidatas dos clubes curitibanos. Depois o Glamour Girl se estendeu para o interior, com cada campeã das principais cidades do estado vindo disputar a edição estadual. Tudo arquitetado e executado pelo próprio Dino.
No início, a organização era amadora. No primeiro baile, no Country Club, apenas cinco pessoas, todas da família de Dino Almeida, participaram do staff. "No último, havia 60 pessoas contratadas e mais um tanto de empresas terceirizadas", compara Nadyesgge. O dinheiro da organização vinha da venda de mesas o que depois foi substituída por outra fonte mais rentável (ler texto ao lado). Nos bailes, Dino também dava jeito de encaixar ações beneficentes. As doações iam para campanhas como a da menina Carolina, portadora de câncer, ou da moça que teve o rosto queimado por ácido atirado pelo próprio namorado, ambas nos anos 80.
Para tornar o concurso mais atrativo, Dino formava o corpo de jurados não apenas com personalidades paranaenses, mas também nacionais. Figurões não faltaram na bancada das 34 edições. Principalmente atores das novelas da Globo. "Meu pai só trazia quem realmente estava por cima", ressalta uma das filhas de Dino, Ana Adalgisa Almeida Fontana.
O contato com figurões jamais deixou de render histórias. A lista dos jurados educadíssimos daqueles que a cláusula no contrato que exigia que se fosse gentil com o público era mera formalidade é extensa: Tony Ramos, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Tônia Carrero, Arlete Salles, Yoná Magalhães... Já os que mandaram para a cucuia o contrato, a formalidade e a elegância é curta, mas marcante.
Dos casos mais pesados como o do ator que de tão drogado não teve condições de sair do hotel as duas não revelam nomes. Mas uma atriz em especial marcou de forma negativa: Bruna Lombardi. "Em um coquetel na minha casa, ela ficava falando vamos ver como essa gentinha vive. Nem o Clodovil foi tão deselegante", ressalta Nadyesgge. No quesito cafonice, o troféu foi para Sônia Braga. "Ela foi educada, mas veio com uma roupa.... Parecia uma uma chefe apache", recorda Ana.
Vencedoras
Ser eleita Glamour Girl elevava a vencedora a outra estratosfera na sociedade. Até fora do estado, conforme atesta a primeira Glamour Girl, a artista plástica Lélia Brown, 62 anos, que depois se tornou jurada do concurso. Ao receber o título de 1966 das mãos do mais renomado colunista social do Brasil, Ibrahim Sued, de O Globo, do Rio de Janeiro, a carreira de modelo de Lélia deu um salto. "Fui convidada a desfilar no Rio e em São Paulo, além de ser capa das duas principais revistas na época, a Manchete e a Cruzeiro", relembra. Isso fora os eventos. "Eram três, quatro por dia. Sempre com roupa diferente. Foi uma época em que eu não parava em casa."
Para participar do Glamour Girl, Lélia diz que a moça precisava cumprir alguns requisitos. Ser bonita era imprescindível mesmo que o concurso não tirasse a medida das candidatas, afinal, como ela ressalta, "não era um concurso de miss, ninguém desfilava de maiô". Mas beleza não era suficiente. A candidata tinha de ter postura, elegância, inteligência e, lógico, boa educação e ser de boa família. "Tinha que saber conversar com desde o presidente de uma multinacional até uma senhora da alta sociedade."
Os prêmios também eram à altura do concurso. Além de uma viagem aos Estados Unidos, Lélia ganhou maquiagem que, segundo ela, não acabava mais.
Já a Glamour Girl de 1989, a publicitária e professora universitária Mauren Tosin de Oliveira, 35 anos, hoje mãe de uma menina de 2 anos e grávida de sete meses, não pôde desfrutar do prêmio, uma viagem para a Itália, por ter que estudar para o vestibular ela também ganhou jóias e um casaco de pele. "Eu era muito nova, tinha 17 anos. Já fazia alguns comerciais como modelo. Mas foi ali que conheci o poder da mídia", afirma.
Por conta do concurso, Mauren passou a ser reconhecida onde ia. "Até então eu não tinha noção do que era ter uma foto minha em um jornal", ressalta. No primeiro ano da faculdade, em 1990, o burburinho entre os novos colegas era dizer que estavam estudando com a Glamour Girl. "Todo mundo na cidade sabia o que era o concurso e comentava." Prova de que a intenção de Dino Almeida de movimentar a cidade se concretizou.
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