O empresário curitibano Adir Hillani, 50 anos, se autodefine como um "cara de apartamento desses que não sabe o que é uma macieira". Foi assim desde criança. "Nunca peguei na enxada", resume. Pelo menos até 2006, quando um ambulante lhe ofereceu sementes de árvores frutíferas e garantiu que "pegava no vaso." Adir pagou para ver e acabou contaminado por algum vírus da natureza. Hoje, o terraço de seu escritório uma área de apenas 50 metros quadrados, na parte mais movimentada da Avenida Mateus Leme abriga nada menos do que 40 recipientes nos quais cultiva uma infinidade de frutas, flores, verduras e legumes.
O local virou seu xodó. E não só dele. Clientes e parte dos 500 funcionários de Adir, profissional da área de estética visitam a famosa área verde e só tomam chás feitos com ervas retiradas dali. No fim do expediente, não raro alguém vai embora com alfaces colhidos numa das áreas mais urbanizadas de Curitiba. A decoração também é feita com rosas apanhadas no próprio andar de cima onde, coisa rara numa empresa, computadores dividem espaço com podões e espátulas.
O terraço do Adir lembra a famosa cobertura do cronista Rubem Braga, uma espécie de jardim suspenso em plena Zona Sul carioca. "Acho que todo mundo podia fazer o mesmo. E, cá entre nós, bem que prefeitura podia plantar árvores frutíferas nas praças", sugere. A contar pela desenvoltura com que Adir até pouco tempo leigo no assunto transita no terraço da Mateus Leme, a idéia até que não é má. Ele se diz "outra pessoa." Põe bananas no tronco para atrair canário, periquito e sabiá, observa o pé de abacaxi com ansiedade adolescente e acompanha atento o desenvolvimento de sua última aquisição um pé de oliveira. "Vou colher azeitonas."
É um desafio segui-lo na descrição das espécies: figo, pêssego, nectarina, amora, mimosa, ameixa amarela, limão-taiti, kiwi, morango, banana, jabuticaba... A contar pela lista, são 40 tipos de frutas, sem contar o resto. "Você anotou as uvas. Coloque aí: branca e rosada. Estou de olho nesse parreiral. Acredita que ano passado deu manga? Assim, ó!"
Melhor não duvidar que, contra todos os prognósticos, no pomar do Adir a teoria das plantas amigas e inimigas ali não vale. "Aqui é tudo amigo. Não vale essa história. Tudo pega. Tudo combina. Dá tudo certo", brinca, que é para afugentar os obstáculos que costumam ser arrumados toda a vez que o assunto é mudança de hábitos.
De uns tempos para cá, Adir deu de propagar no melhor do estilo sessentista , que mudar é possível e que o sonho não acabou. É provável que angarie seguidores, já que virou praticamente um profeta da auto-ajuda ecológica. "Chega de discurso. Tem de fazer alguma coisa", proclama. E por fazer, entenda-se, volta e meia retirar as plantas dos vasos, cortar as raízes para que o pior não aconteça. Outra dica é podar, regar e, como no melhor dos manuais, amar.
"Podem rir. Mas que uma dose de carinho garante o sucesso da plantação. Eu gosto disso aqui. Isso faz diferença", declara, enquanto aponta para as romãs, para a macieira carregada e mostra o pé de pitanga. "Eu não conhecia nada disso. Demorei muito para encontrar a natureza. Quem tem um pomar não precisa de psiquiatra."
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora
Deixe sua opinião