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Em entrevista à Gazeta do Povo, João (nome fictício) conta como teve contato com o PCC durante os oito meses em que esteve preso em delegacias e penitenciárias do Paraná. Por questões de segurança, a repórter que fez a entrevista não será identificada.

COOPTAÇÃO

Preso pelo roubo de R$ 30, mas envolvido com o tráfico, João foi levado primeiro para o 3º Distrito Policial de Curitiba, no bairro das Mercês. Confundido com um chefe pela sua aparência, ganhou moral entre os presos. Apesar de ter sido bastante machucado, não delatou ninguém. A postura de lealdade chamou a atenção da facção. Foi aí que surgiu o convite de filiação, vindo de um presidiário de Minas. Na época, existia uma tabela de contribuição. Os "irmãos" pagavam R$ 500 por mês. Com a chegada do "irmão", os grupos de presos foram divididos e a ordem imposta. "Obediência, acima de tudo", conta. O PCC tem uma filosofia toda própria: discute o preconceito social, as desigualdades e acaba servindo de tábua de salvação àqueles que estão detidos e nada têm a perder. As regras são rígidas e norteadas por um estatuto.

LIMITES

As passagens pelo Centro de Triagem de Piraquara e pelo Centro de Detenção Provisória de São José dos Pinhais fizeram João conhecer melhor o grupo. Bebida, traição e mentira são fatais. "Se o preso aceitar essas exigências, a partir daquele momento a vida dele pertence ao PCC", avisa. Se houver traição, a família também será punida. Porém, João lembra o sentido de justiça existente no grupo, que segue uma lei única e própria: só é morto quem cometer um erro. Inocentes e desfavorecidos são mantidos vivos. "O PCC não rouba pobre: os crimes cometidos são sempre acima de R$ 200 mil".

LEIS

João conta que, há alguns anos, havia muito mais casos de violência sexual entre presos. Com a chegada do PCC, os casos, se não acabaram, diminuíram. Quando são descobertos, os abusadores são mortos. Ele diz que em rebeliões os primeiros que servem de reféns são os que estão no seguro – cela especial onde ficam os estupradores e os pedófilos. "São os que não valem nada. Cortar a cabeça de um deles é muito simples." As brigas entre grupos também não existem quando há membros do PCC. "A corrupção dentro das cadeias é eliminada. Tudo tem uma tabela, só existe troca. Nada pode ser superfaturado.

CORPORAÇÃO

As lideranças obedecem uma hierarquia. João lembra que um "primeira voz" pode ter oito "irmãos" e 15 "primos leais". Isso une a família do PCC, conta. "Quando você entra nos quadros do PCC, você sabe que está sujeito a qualquer coisa. É matar, ou morrer". Quem faz parte do grupo e é "irmão", tem mordomias. Quando sai, tem carro esperando, advogado, apartamento alugado e tudo mais.

MODUS OPERANDI

Em uma ação criminosa, duas equipes são destacadas, usando carros clonados. Dos valores roubados, 30% fica com o PCC.

COMUNICAÇÃO

As informações entre os membros são repassadas ou por celular, bilhete e – na grande maioria das vezes – por recados orais. A "pipa" (o bilhete) é repassado quando um preso vai ao Fórum, por exemplo – e tem contato com presos de outros lugares. São nesses casos que se recebe o comando de "virar a cadeia" (iniciar uma rebelião).

CLONAGEM

Francisco lembra que há casos de pessoas que imaginam ter entrado no PCC, mas acabam sendo cooptadas pelo Terceiro Comando, facção violenta formada por dissidentes do Primeiro Comando. "Eles não têm honra, não têm moral. Matam por qualquer coisa."

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