Quase um terço dos leitos hospitalares administrados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está ocioso. Isso significa que 587 vagas estão inativas ou nem sequer saíram do papel. Nesse cálculo não entram hospitais municipais, filantrópicos ou universitários. Segundo o governo estadual, a falta de recursos financeiros, profissionais e equipamentos são os principais empecilhos para o pleno funcionamento dos leitos.
O único hospital com previsão de abertura de vagas de internamento ainda neste ano, segundo o Relatório Quadrimestral de prestação de contas da Sesa, é o Hospital Regional de Ponta Grossa. Hoje, a instituição possui 40 leitos ativos, mas o espaço foi preparado para comportar 193. O plano é abrir mais 48. "Já foram contratados 206 servidores para o hospital de Ponta Grossa no início do ano e temos a perspectiva da compra de mais equipamentos. Dessa forma, é viável a abertura de novos leitos", explica o superintendente de unidades hospitalares da Sesa, Charles London.
O Centro Hospitalar de Reabilitação, em Curitiba, teria capacidade para 81 leitos, mas, segundo o relatório referente a 2012, apenas dez estão ativos. London afirma que a instituição já tem 25 leitos em atividade desde o início de 2013. Além disso, o índice de cirurgias realizadas no local é um dos mais baixos do estado: apenas 54 em 2012 contra 977 do Hospital de Ponta Grossa, por exemplo.
Preferência
O funcionamento de todos os 587 leitos ociosos depende de cada caso. O superintendente cita que o Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, em Pinhais (Grande Curitiba), deve ter uma redução natural de leitos. "A política é dar preferência para não tratar esses pacientes em hospitais". O mesmo fenômeno deve ocorrer com o Hospital de Dermatologia Sanitária, na cidade vizinha de Piraquara. "Nem todos os leitos de lá são necessários. Preconizam-se atendimentos fora do hospital sempre que possível", explica.
London salienta ainda que a preferência do governo é a abertura de leitos qualificados. "A gente precisa de mais leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e é nesse ponto que mais trabalhamos", diz. Dos hospitais gerenciados pela Sesa, apenas sete dos 16 hospitais têm UTI sendo 99 vagas para adulto, 14 para crianças e 11 para recém-nascidos.
O médico Luiz Ernesto Pujol, do Departamento de Defesa Profissional da Associação Médica do Paraná, concorda que o custeio dos leitos é alto e grande parte dos equipamentos está defasada. "Aumento de leitos exige toda uma estrutura funcional e ela é extremamente onerosa tanto na instalação como no pleno funcionamento e manutenção. Mas, sem leitos, o sistema vira um caos e deixa a população desassistida", ressalta.
Ação civil pública não deu em nada
O promotor público Fuad Faraj ingressou em agosto do ano passado com uma ação civil pública contra o estado do Paraná cobrando o pleno funcionamento do Hospital Regional de Ponta Grossa. Porém, ele não viu a cobrança surtir efeito. "Isso é reflexo da inatividade do governo, que não consegue colocar leitos para funcionar."
Segundo ele, a realidade em todo o estado é preocupante. "A falta de leitos provoca impactos diretos sobre a população. Quando o estado prioriza atendimentos em hospitais regionais e em cidades polo, alguns municípios ficam descobertos", afirma.
O superintendente de unidades hospitalares da Secretaria de Saúde do Paraná, Charles London, afirma que é inviável ter especialistas de todas as áreas em todos os municípios.