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Entrevista

“Nós queremos ter um presidente da República”

São Paulo – O governador tucano Aécio Neves (MG) está desencorajando apostas numa disputa selvagem entre ele e o governador José Serra (SP) pela indicação presidencial em 2010. "Eu e Serra estaremos juntos daqui a quatro anos, podem estar certos, e temos responsabilidade para não antecipar 2010". Ele assume um compromisso: "Hoje, a única segurança que eu tenho é que nós estaremos juntos em 2010".

O governador diz que não vê ânimo no presidente Lula para o segundo governo e que está preocupado "com o esvaziamento sucessivo da estruturação do novo governo". Segundo ele, Lula está montando a sua nova base de apoio em cima da distribuição de cargos e não de um projeto. Por isso, sentencia, a base "nascerá frágil". Aécio antecipa que não vê condições de o Brasil crescer 5% em 2007 sem que os estados participem do esforço.

O que garante a fidelidade dos governadores da base aliada ao movimento para mudar o PAC?Aécio Neves – O convencimento é natural, porque os governadores da base aliada perceberam que não existe diferença entre as demandas de estados governados pela oposição e os pela situação. Nossa agenda não é de oposição, mas de alternativas para o governo Lula, que tem uma grande e talvez única oportunidade de estabelecer uma parceria com os governos estaduais. Não há condições de o Brasil crescer 5% ou algo próximo disso em 2007 sem que os estados participem desse esforço.

A cobrança do PT por uma participação maior no governo atrapalha Lula?Todo governo que se elege sem um projeto visível – e isso ocorreu com o PT – fica sempre mais vulnerável a pressões da base, que agora surgirão com muita força. Espero que o presidente compreenda que seu compromisso maior é com a população brasileira, e não com os partidos que lhe deram sustentação. O segundo mandato, se traz algum cansaço e limitações, permite ao governante um olhar mais elevado, que não privilegie conveniências partidárias em detrimento do interesse nacional.

O senhor está indo para o segundo mandato, como o presidente Lula. Quais os riscos que o senhor identifica na repetição?Eu não gosto do instituto da reeleição. Ele não é republicano, não está nas nossas tradições. Carrega consigo o grande fantasma da continuidade, do cansaço, da fadiga de materiais. No segundo mandato, o governante tem de se renovar a cada momento, estabelecer novas e ousadas metas. Vejo o mandato do presidente Lula com dois momentos muito distintos. No primeiro, até as eleições de 2008, quando parlamentares da base aliada garantirão as bases para suas reconduções em 2010, há alguma tranqüilidade para o presidente. Mas a partir de 2008 as aproximações partidárias se darão em torno de novas expectativas de poder. É preciso que o presidente Lula aproveite muito bem essa primeira fase para fazer as reformas que marcarão o seu governo. Confesso que acho tímida a ação do governo em relação às reformas estruturantes, entre elas a tributária e a previdenciária, que nem sequer, hoje, são lembradas pelo governo.

O governo Lula está construindo bem a sua base de apoio?O que falta a ele é um projeto em torno do qual essa aliança se construa. Ela está se construindo em torno da distribuição de cargos e não em torno de um projeto. Por isso, a aliança nascerá frágil. Nós já vimos esse filme lá atrás e sabemos que ele termina com resultados perversos para a sociedade. O início de um governo é o seu momento de maior vigor. Vejo com preocupação o esvaziamento sucessivo da estruturação do novo governo Lula. Até que os novos ministros assumam seus cargos, conheçam o seu funcionamento e comecem a trabalhar, talvez o melhor momento tenha passado. Dois meses já se passaram e poderemos ter pela frente um ano perdido.

O senhor usou bem os primeiros meses?Na lógica da administração pública, todo governo perde capital político a cada dia, uns mais rápido, outros menos. Se fiz um primeiro mandato exitoso em Minas, devo muito às medidas tomadas no primeiro mês de governo. Estou repetindo a dose agora. Mas eu não vejo essa ação proativa, esse ânimo de iniciar o novo mandato no governo Lula. Talvez ainda haja tempo e isso mude...

O senhor e o governador José Serra se vacinaram contra intrigas?Eu tenho, com o governador José Serra, uma relação mais próxima e profunda do que muitos imaginam. Eu acho que certamente todos nós temos os nossos defeitos. Tem quem goste mais de um, tem quem goste mais do outro. Mas nós dois temos espírito público, temos uma visão muito semelhante do que o país precisa viver. O nosso compromisso com o país, a nossa visão em relação à eficiência do Estado como instrumento de desenvolvimento econômico e social. E isso nos aproxima muito mais do que qualquer intriga possa nos separar. Podem estar certos de que nós temos responsabilidade para não antecipar 2010 mas estaremos juntos em 2010. Somos governadores de dois importantes estados, com demandas enormes a ser enfrentadas todos os dias, praticamente, e precisamos ter tranqüilidade para fazer isso. Temos ainda uma longa estrada a percorrer até 2010. Hoje, a única segurança que eu tenho é que nós estaremos juntos em 2010.

Quem é hoje o seu candidato para 2010?O PSDB não deve ter hoje um candidato para 2010. Mais do que um candidato, nós queremos ter um presidente da República. E para isso o candidato será aquele que construir com naturalidade essa candidatura e as perspectivas de vitória. Uma candidatura presidencial, para ter chance reais de sucesso, precisa ter uma grande dose de naturalidade. Isso, o tempo é que dirá. José Serra tem todas as condições de construir essa sua caminhada, mas antecipar esse processo, a meu ver, é prematuro e também vai contra o interesse do partido, que é consolidar a sua unidade interna. O PSDB só terá uma candidatura vitoriosa em 2010 se estiver sinceramente unido, se renovar o seu discurso, se voltar a inspirar confiança nas pessoas. O nome surgirá no momento certo, com muita naturalidade. Da minha parte, haverá absoluto desprendimento.

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